ENTREVISTA – JULIMAR CAETANO: “A população sabe quem realmente trabalha pela comunidade”, afirma presidente eleito da Câmara Municipal de Campinorte
Vereador de 33 anos, em seu primeiro mandato, vence eleição para presidir Legislativo de Campinorte por um ano, a partir de janeiro: conhecido pelo temperamento forte, Julimar diz que mudou sua postura e entendimento sobre as dificuldades do trabalho da classe política somente após ser eleito, em 2020
O vereador Julimar Caetano da Silva (PRTB), de 33 anos, foi eleito presidente da Câmara Municipal de Campinorte na noite da última terça-feira/20 em sessão ordinária com a presença dos nove parlamentares da casa de leis. Cumprindo seu primeiro mandato de vereador – Julimar foi eleito em 2020, com 154 votos – ele comandará o Legislativo campinortense durante o ano de 2023, ciente dos desafios políticos e administrativos a serem enfrentados nos próximos 12 meses. No início da tarde da quarta-feira/21, o futuro presidente da Câmara Municipal de Campinorte recebeu o Portal Excelência Notícias em seu gabinete para uma entrevista exclusiva. Na conversa, Julimar detalhou que não tinha pretensão alguma em disputar a função, mas que assim decidiu por entender que a carreira política e o mandato do vereador que encabeçava a outra chapa – Murilo Matheus da Silva – seria, em sua visão, administrada por seu pai, o ex-vereador Marcelo José da Silva; e que, diante disso, não seria de bom tom entregar a administração da casa de leis, ainda que indiretamente, para uma figura pública atualmente sem mandato eletivo. Além de Julimar, a chapa “Unidos em Prol de Campinorte” – eleita com sete votos e dois contrários – terá como vice-presidente, em 2023 o vereador Amarildo Pimenta Novaes, que presidiu a Câmara de Campinorte em 2021; e os vereadores Josemar Ferreira Xavier (1º secretário) e Cezamar Correia Oliveira (2º secretário). Numa manobra política de bastidores, Julimar e Amarildo renunciaram às funções que teriam na chapa de Murilo Matheus, formada dias antes, viabilizando assim que a chapa encabeçada por Julimar fosse a única com condições de sair vitoriosa da disputa. Confira, a seguir, a íntegra da entrevista com o futuro presidente da Câmara Municipal de Campinorte:
Portal Excelência Notícias – Como se deram as articulações políticas com os demais oito vereadores da cidade para que o senhor fosse eleito presidente da Câmara Municipal de Campinorte?
Julimar Caetano da Silva – De início, eu não tinha essa pretensão de ser candidato à presidência. Nunca tive essa vaidade. Tanto isso é verdade que, como foi divulgado aqui nas redes sociais em Campinorte, eu estava participando de uma outra chapa. Mas, pelo entendimento sob quem realmente articulava a carreira política’ do outro candidato [o vereador Murilo Matheus da Silva, da chapa Avante Campinorte] era seu pai [o ex-vereador e ex-secretário de Esportes, Marcelo José da Silva] nesses últimos dois anos – e também por saber quem realmente trabalha pela nossa comunidade – eu não compactuava em alguns pontos com a forma com o que o outro candidato, o outro vereador [Murilo] administrava seu mandato. Sendo assim, eu decidi lançar-me como candidato a presidente, conversando assim democraticamente com meus companheiros com os quais obtive os votos necessários. Da mesma forma que eu, eles também percebiam realmente que quem administraria a Câmara Municipal não seria o outro vereador [Murilo] e decidiram me apoiar, entendendo que eu seria o melhor nome para cuidar do nosso Legislativo. Porém, apesar de saber que eu teria os votos – quer dizer, ao passo que a gente sabe ao mesmo tempo a gente dúvida – trabalhei tranquilo, mas, quem me conhece bem, sabe bem que vim para a sessão à eleição muito nervoso. Até mesmo porque a política é dinâmica e muda a cada segundo. Ao mesmo tempo que tenho este ou aquele apoio, poderia também perdê-los, pois assim é o processo democrático da política. Apesar de ser uma eleição interna, onde votam somente os vereadores daqui de Campinorte, é a mesma situação como na rua, ou seja, eu precisava conquistar os votos dos meus colegas, assim como fiz com os meus eleitores em 2020.
Excelência Notícias – E, obviamente, essa não é uma articulação fácil…
Julimar Caetano – Sim, não é uma articulação fácil. Quem me conhece sabe muito bem que sempre fui muito transparente na condução do meu mandato de vereador. Mesmo assim, eleitorado do outro concorrente [Murilo] estão me atacando nas redes sociais, porém sem entender o outro lado da moeda [a suposta ingerência do ex-vereador Marcelo sobre o mandato do filho]. É muito chato ser criticado em rede social e prefiro nem levar isso em consideração pois estou aqui [como vereador] representando todo mundo [a população em geral]. E, agora, como presidente do Legislativo, serei companheiro de todos, independentemente de quem votou em mim para assumir essa casa de leis. Vou continuar meu mandato como vereador em 2023 – e também como presidente – auxiliando naquilo que for possível para o desenvolvimento de Campinorte.
Excelência Notícias – O senhor será o terceiro presidente do Legislativo de Campinorte, na atual Legislatura, sucedendo os vereadores Ítalo Fernandes (2022) e Amarildo Pimenta (2021). Fazendo um apanhado geral da gestão de ambos no comando da casa, qual deverá ser o diferencial administrativo do senhor?Julimar Caetano – Eu tenho, como referência, a presidência do vereador Amarildo que, inclusive, agora será meu vice-presidente. Ele [Amarildo] iniciou, em seus dois mandatos, uma nova forma de apresentar a Câmara Municipal de Campinorte à sociedade. O Ítalo também deu continuidade a esse trabalho; e eu quero reforçar isso, da melhor maneira possível, para que a Câmara tenha maior participação da população. Voluntariamente, antes mesmo de ser escolhido presidente, eu sempre fiz isso para ajudar a nossa comunidade. Quero fortalecer o nosso Legislativo, dar mais autonomia para os nossos vereadores trabalharem, com o máximo empenho para que a população enxergue a Câmara Municipal como uma instituição política parceira. Algumas pessoas deixam de vir ás nossas sessões ordinárias achando que isso aqui [o trabalho em plenário] é um bicho de sete cabeças. E não é. Às vezes, fico triste em notar que apenas um público pequeno tem participado. E eu gosto muito que a população participe, pois todo projeto de lei, de alguma forma, mexe com os interesses da sociedade, prejudicando ou beneficiando as pessoas. Então, se a participação das pessoas for efetiva, nós [os vereadores] faremos um bom trabalho e a cidade irá evoluir.
Excelência Notícias – Agora, como fazer com que a população saiba exatamente que o papel de um vereador é cuidar da cidade e não pagar contas de água e de energia, por exemplo?Julimar Caetano – A função primordial de um vereador é fiscalizar a gestão municipal, visitar obras, criar leis e projetos de lei, bem como estudar as propostas que nos são enviadas pelo Poder Executivo, dentre outras coisas. O vereador não tem, em muitas ocasiões, recursos financeiros para custear uma cesta básica ou outro benefício pessoal para a sociedade. Quando um vereador faz isso é porque está tirando o dinheiro de seu próprio bolso, do seu salário, para ajudar a comunidade. Muitas vezes, quem está lá fora [o eleitorado] pensa que a Câmara Municipal de Campinorte é rica e que os vereadores tem muito dinheiro. Na realidade, não é assim. O dinheiro público é sim para ajudar a comunidade, com obras e benefícios. Mas os recursos da Câmara Municipal têm outra finalidade, ou seja, de organizar a estrutura do próprio Poder Legislativo pagando salários dos vereadores, dos funcionários, contratos de prestação de serviços, dentre outras finalidades. Eu, como presidente, não posso pegar dinheiro das contas bancárias da Câmara e comprar uma cesta básica para algum morador, por exemplo. Isso, além de ser impossível, também é juridicamente proibido por ser absolutamente errado sob o ponto de vista da legalidade e da moralidade administrativa que precisamos ter.
Excelência Notícias – O senhor é uma figura pública de Campinorte que, antes mesmo de ser eleito vereador, sempre foi conhecido por ter um temperamento forte e até explosivo na defesa de seus interesses pessoais e profissionais. Isso posto, como deverá ser o relacionamento do senhor, como presidente da Câmara, com o prefeito Cleomar Araújo?Julimar Caetano – Olha, posso lhe dizer que mudei muito em minha conduta. Ao longo dos anos, convivendo e interagindo mais com as pessoas, fui percebendo que precisava mudar meu jeito de atender a comunidade tendo, para isso, a sensibilidade de notar a situação do nosso município. O prefeito, hoje, tem desempenhado um brilhante papel na administração de Campinorte. Porém, nem ele vai conseguir agradar a todos, na sua gestão, da forma que a população desejaria. Às vezes, a população cobra agilidade na resolução de certas coisas, mas nem tudo ocorre com a mesma rapidez na parte burocrática. Em vários eventos, quando vamos entregar algum benefício, as pessoas mal sabem que o prefeito e nós, como vereadores, ficamos sentado horas e horas em Goiânia, para falar com algum deputado. Quando eu estava fora da política, eu via tudo isso de forma diferente. Hoje, dentro da política, enxergo mais as dificuldades que nós – e também os secretários municipais, que igualmente possuem autonomia para correr atrás de benefícios – enfrentamos. Estou aqui para ajudar naquilo que for em benefício de nossa cidade.
Excelência Notícias – Embora o senhor tenha dito que a administração do prefeito Cleomar caminha bem aqui em Campinorte, imagino que a administração municipal também tenha deficiências. Onde estão as falhas que precisam de uma correção de rota, na sua avaliação?Julimar Caetano – A cidade ainda tem muito a crescer. Porém, ontem [terça-feira], fomos pegos de surpresa com uma dívida do município com a antiga Celg-D – de gestões anteriores, que o prefeito nos informou – desde 1994, que pode chegar a R$ 50 milhões. O prefeito Cleomar vem pagando essas dívidas antigas, da prefeitura, fielmente. O munícipio de Campinorte sequer tinha certidões negativas, ou seja, não tinha a mínima condição de receber emendas (recursos) federais. Muitas vezes, inclusive, fomos até Brasília atrás de deputados federais, mas, quando a emenda chegava até a cidade, o dinheiro retornava para os cofres públicos do governo federal, porque não tínhamos as certidões. Hoje, a Prefeitura de Campinorte tem essa documentação; as emendas começaram a chegar em favor do nosso município; e existem obras em andamento, que o próprio prefeito Cleomar poderá mencionar numa futura entrevista ao Portal Excelência Notícias. Claro que toda administração enfrenta dificuldades, mas vejo que o prefeito tem trabalhado para resolver mais brevemente a situação do nosso município.
Excelência Notícias – O senhor já comentou conosco, em algumas vezes, que a Câmara Municipal de Campinorte possui apenas dois assessores para auxiliar os nove vereadores da cidade. A futura gestão do senhor, como presidente do Legislativo, vai aumentar o número de funcionários comissionados para fins de assessoria parlamentar?Julimar Caetano – Não, embora a assessoria com apenas dois funcionários seja insuficiente. Claro que o vereador que deseja trabalhar mais pela população precisa, de fato, ter esse suporte. Mas esse é um assunto que poderemos pensar futuramente, em reestruturar nosso quadro de servidores. Dependendo do resultado do Censo do IBGE, sobre a população de Campinorte, nossa cidade poderá ter duas novas vagas de vereador às eleições municipais de 2024, no caso, de 9 para 11 cadeiras. Então, precisamos trabalhar pensando no futuro. Uma vez que a cidade cresce, os órgãos públicos precisam evoluir da mesma forma para atender aos anseios da sociedade.
Excelência Notícias – O senhor também encampou um manifesto, junto ao Ministério Público Federal (MPF) em Uruaçu, sobre a exorbitância dos valores cobrados na tarifa de pedágio na rodovia BR-153 pela concessionária Ecovias do Araguaia, tanto na ida como na volta, no trecho de apenas 23 quilômetros entre Campinorte e Uruaçu. Qual a situação de momento dessa questão?Julimar Caetano – Sobre essa ação, eu inicialmente ingressei com esse pedido no Ministério Público de Goiás, mas por tratar-se de uma estrada federal, fui informado de que eu deveria acionar o MPF em Uruaçu. O nosso entendimento, hoje, é que Campinorte é uma cidade dependente do município de Uruaçu. Muitas pessoas, todos os dias, saem de Campinorte e vão até Uruaçu para uma consulta médica onde, por exemplo, temos o Hospital Regional e uma clínica de hemodiálise, inaugurada recentemente. São muitos pacientes da nossa cidade que fazem algum tipo de tratamento em Uruaçu; temos também aposentados que se deslocam para receberem atendimento na agência do INSS de Uruaçu, dentre tantas outras situações. Por isso, o pagamento dessa taxa de pedágio, que eu acho muito elevado o valor [de R$ 13,10 nos dois sentidos, totalizando R$ 26,20 a cada viagem] até mesmo porque ainda não temos uma rodovia duplicada em operação. Ou seja, é uma cobrança totalmente sem sentido. Por isso, entrei com a ação no MPF pedindo uma redução no valor do pedágio, ou até mesmo a isenção dessa cobrança para situações bem específicas, através do cadastro das placas dos veículos ou de qualquer outra forma que isso seja possível, para beneficiar nossa população de Campinorte, a fim de que o povo não continue pagando esse valor abusivo, de R$ 13. O cidadão que precisa trabalhar em Uruaçu e voltar para Campinorte, de segunda a sexta, vai gastar 524 reais por mês, tirando do seu próprio salário. É uma situação bastante complicada, principalmente, para as pessoas mais carentes. Essa ação está sob os cuidados da procuradora Mariana Guimarães, no MPF, e eu espero que ela dê alguma decisão favorável à população de Campinorte.
Excelência Notícias – Fique a vontade para dizer algo que eu não tenha lhe perguntado, além das considerações finais do senhor.
Julimar Caetano – Acredito que, com essa entrevista, foi possível esclarecer os principais pontos do meu pensamento aos moradores de Campinorte, reiterando que o meu mandato sempre esteve e estará sempre à disposição da população, que pode me procurar todos os dias aqui na Câmara Municipal, caso não tenha feriado ou eu tenha que estar viajando para buscar algum benefício à nossa cidade. Eu trato a Câmara Municipal como se fosse uma empresa privada, onde eu preciso cumprir minha jornada diária, como qualquer trabalhador assim o faz, para receber o meu salário. Quero aproveitar para desejar um Feliz Natal e um excelente Ano Novo para a comunidade de Campinorte e de toda a nossa região.