EUA é pressionado a intervir em venda de plantas da Anglo American em Niquelândia e Barro Alto para chineses, aponta reportagem da “Folha de São Paulo”
Associação Americana do Ferro e do Aço (AISI) pediu diretamente ao governo Donald Trump que intervenha na negociação entre a Anglo American e a MMG, avaliado em cerca de R$ 2,7 bilhões: transação pode virar processo em apuração pela Comissão Europeia mas, no Brasil, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) acaba de ser acionado

As unidades de extração e beneficiamento de níquel situadas em Niquelândia e Barro Alto — municípios do Vale do São Patrício e do Norte do Estado que integram a área de cobertura jornalística do Portal Excelência Notícias — se tornaram peça-chave em um embate que envolve Estados Unidos, China e Brasil.
A mineradora Anglo American decidiu negociar suas operações nessas duas localidades, além de dois projetos em andamento no Pará e em Mato Grosso, com a MMG, empresa vinculada à estatal chinesa China Minmetals Corporation.
O valor estimado da transação gira em torno de US$ 500 milhões, o equivalente a mais de R$ 2,7 bilhões.
Segundo reportagem publicada nesta segunda-feira (25) pela Folha de São Paulo, a venda gerou reação da Associação Americana do Ferro e do Aço (AISI), que pediu diretamente ao governo Donald Trump que interfira no processo.
A entidade alerta que a transferência das plantas para a companhia chinesa concederia a Pequim “influência direta” sobre uma fatia significativa das reservas globais de níquel, ampliando riscos na cadeia de fornecimento desse insumo estratégico.
Ainda conforme a publicação da Folha, a AISI também solicitou que Washington dialogue com o governo brasileiro sobre os impactos da operação e sobre a possibilidade de concentração excessiva de mercado.
Em carta enviada ao Escritório do Representante de Comércio dos EUA (USTR), o instituto defendeu que “o Brasil explore alternativas que mantenham esses ativos estratégicos de níquel sob uma lógica de mercado e assegurem um acesso justo ao mineral no futuro”.
A manifestação oficial da associação foi registrada em 18 de agosto – empresas e entidades podiam apresentar manifestações – no contexto de uma investigação comercial já aberta pela gestão Trump contra o Brasil.
O documento havia sido antecipado pelo jornal Valor Econômico e, posteriormente, confirmado pela Folha de São Paulo.
Na avaliação da AISI, caso a venda se concretize, a China não apenas avançará sobre as reservas brasileiras, mas também reforçará sua posição dominante conquistada na Indonésia — hoje um dos maiores produtores mundiais de níquel.
“Se [a negociação] for concluída, a China passará a ter influência direta sobre uma parte substancial das reservas de níquel do Brasil, além de consolidar sua força na Indonésia, agravando vulnerabilidades já existentes”, declarou a associação, de acordo com a reportagem.
O processo de investigação conduzido pelo USTR, segundo a Folha, apura práticas comerciais consideradas injustas por parte do Brasil, em áreas como comércio digital, serviços de pagamento eletrônico, tarifas diferenciadas para parceiros, combate à corrupção, propriedade intelectual, mercado de etanol e desmatamento ilegal.
O jornal paulista acrescenta que, além das plantas em Goiás, a Anglo American incluiu na negociação projetos de exploração mineral em Mato Grosso e no Pará.
A entrada da MMG no Brasil amplia a presença da China sobre um insumo visto como essencial para a transição energética global.
Ainda segundo a Folha de São Paulo, a operação já está sendo acompanhada pela Comissão Europeia e foi notificada ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) no Brasil.
Na carta enviada ao governo norte-americano, o presidente da AISI, Kevin Dempsey, destacou que a concentração de níquel em poucos países — especialmente Indonésia, Austrália e Brasil — somada aos investimentos chineses na Indonésia, já garantiu a Pequim uma fatia significativa do mercado.
Ele alertou ainda que as tratativas envolvendo as plantas brasileiras acontecem em um contexto de “concorrência desleal” imposta pela China em relação a minerais críticos.
“Para os produtores de aço inoxidável dos Estados Unidos, a aquisição proposta representa um esforço da China para reforçar ainda mais seu controle sobre o fornecimento mundial de níquel”, afirmou Dempsey, segundo a Folha de São Paulo.
Em fevereiro deste ano, quando da concretização do negócio com a MMG, o presidente do Grupo Anglo American, Duncan Wanblad, destacou que a venda do negócio de níquel, fruto de um processo altamente competitivo, é um passo estratégico para a simplificação do portfólio da empresa.
Na ocasião, ele ressaltou que a medida reforça o foco em ativos de maior valor, como cobre, minério de ferro premium e nutrientes agrícolas, alinhando-se à estratégia de fortalecimento e crescimento sustentável da companhia.[Informações do Jornal Folha de São Paulo, sob adaptações editoriais do Portal Excelência Notícias, em Niquelândia]
