Meio Ambiente

ESPETÁCULO DE CORES – Ipês transformam a paisagem do Cerrado em obra de arte natural

Beleza dos ipês na seca é também um retrato científico do solo, do clima e da biodiversidade do Cerrado, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente (Semad)

Durante a estação seca, quando o Cerrado se despede das chuvas e a paisagem ganha tons amarelados pela falta de umidade, surge um espetáculo que transforma o cenário: a floração dos ipês.

De julho a setembro, amarelos, rosas, roxos e brancos rompem a monotonia da vegetação e anunciam, silenciosamente, estratégias de sobrevivência refinadas ao longo de milhares de anos.

O analista ambiental da Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Goiás (Semad), Francieudes Pereira do Nascimento, explica que o florescimento dos ipês está diretamente ligado a fatores ambientais como a queda das folhas, a incidência solar, a amplitude térmica e a disponibilidade hídrica.

“Na seca, os ipês perdem as folhas para economizar energia e água. Com as copas nuas, as flores ficam mais visíveis e chamam a atenção de polinizadores como abelhas e beija-flores”, explica o analista.

Essa sincronia com o clima é estratégica: quando a chuva retorna, as sementes já estão prontas no solo, cercadas de matéria orgânica.

Assim, germinam no momento ideal, garantindo mudas mais fortes para enfrentar a próxima estiagem.

As diferentes cores das flores não são obra do acaso. Elas resultam de variações genéticas entre espécies distintas e cada tonalidade tem potencial para atrair polinizadores específicos.

“No Brasil, existem várias espécies nativas e outras introduzidas, que se adaptaram bem. Quanto mais diversidade de cores, maior a variedade de polinizadores atraídos”, afirma o analista.

A cor das flores também pode indicar o tipo de solo e as condições ambientais da região.

O ipê-amarelo é mais comum em solos bem drenados e arenosos. O ipê-rosa aparece com frequência em terrenos pobres e ácidos, característicos do Cerrado.

Já o ipê-branco costuma florescer em áreas elevadas com solo pedregoso. O ipê-caraíba surge em regiões de solo mais restritivo, onde poucas espécies conseguem prosperar.

Essa relação íntima entre espécie e ambiente significa que a paisagem florida não é apenas um espetáculo visual, mas também um retrato ecológico do local.

“Quando olhamos para uma área e identificamos quais ipês estão florescendo, conseguimos ter pistas sobre o solo, o microclima e até o histórico de uso da terra”, ressalta o engenheiro.

Assim, enquanto encantam moradores e turistas, os ipês do Cerrado também contam, em silêncio, a história do clima, do solo e da adaptação das espécies, lembrando que beleza e ciência podem florescer lado a lado [Informações da Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual do Meio Ambiente/Semad, em Goiânia]

Ipê-rosa aparece com frequência em terrenos pobres e ácidos, característicos do Cerrado [Foto: Agência Brasil]

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