Casal de Niquelândia alerta sobre combate ao Aedes Aegypti após perder bebê por dengue hemorrágica em SP
Maria Cecília Lago Arantes tinha apenas quatro meses de vida: criança se recuperava bem após duas delicadas cirurgias para tratar cardiopatia congênita, mas não resistiu após receber transfusão de sangue que estava contaminado com o vírus do mosquito transmissor da doença
Após uma batalha de quatro meses pela vida, a bebê do ex-prefeito de Colinas do Sul, Iran do Lago Ferreira e da advogada Graciele Arantes, de Niquelândia – morreu no início da noite da quarta-feira/8 no Hospital Beneficência Portuguesa em São Paulo/SP.
Mesmo corroído pela dor da perda da criança, o pai da pequena Maria Cecília Lago Arantes entrou em contato com o Portal Excelência Notícias no final da tarde de hoje para um relato carregado de emoção ao desembarcar com a esposa no aeroporto de Goiânia num voo procedente da capital paulista.
Segundo Iran do Lago, a filha do casal estava internada desde os primeiros dias de nascimento após exames do período pré-natal diagnosticarem, no sexto mês de gravidez de sua esposa, que a bebê era portadora de cardiopatia congênita.
Em linhas gerais, de acordo com a literatura médica, a doença ocorre por uma alteração no desenvolvimento embrionário da estrutura cardíaca nas primeiras oito semanas de gestação, quando se forma o coração do bebê.
Diante do diagnóstico, explicou o ex-prefeito de Colinas do Sul, Maria Cecília precisou ser submetida a duas cirurgias cardíacas e estava se recuperando de forma bastante satisfatória na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital em SP.
Todavia, detalhou Iran, a bebê do casal precisou receber uma transfusão de sangue após o segundo procedimento cirúrgico e acabou sendo infectada pelo vírus causador da dengue em sua forma hemorrágica, variedade mais grave da doença.
Com o contágio pela doença, sempre de acordo com o ex-prefeito de Colinas do Sul, a pequena Maria Cecília teve severo comprometimento no funcionamento do fígado denotando a necessidade de um transplante do órgão.
O procedimento seria realizado no Hospital Sírio Libanês mas, com o agravamento do quadro – na segunda-feira/6 – não houve tempo hábil para salvar a criança.
A bebê, relatou Iran do Lago, também precisou receber suporte respiratório através de uma máquina conhecida como ECMO, que funcionou como um pulmão artificial para a oxigenação durante o tratamento da dengue hemorrágica.
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pessoas que tiveram dengue comum e desejam participar do processo de doação de sangue precisam aguardar um período de 30 dias após a recuperação clínica, quando já não há sintomas da doença.
Para casos que evoluíram para dengue hemorrágica, a Anvisa preconiza um período mínimo de seis meses para doação. Isso ocorre porque quando uma pessoa recebe sangue contaminado com o vírus há uma probabilidade de 38% de que ela seja infectada e desenvolva a doença após a transfusão.
Com a experiência de quem foi prefeito por dois mandatos durante oito anos, Iran do Lago disse que não pretende processar o Hospital Beneficência Portuguesa pela transfusão que causou a morte de sua filha.
Segundo ele, não existe exigência, por parte do Ministério da Saúde, de que o sangue coletado em doações em hemocentros passe por testagem para prevenir a contaminação pelo vírus da dengue, assim como é normalmente feito para HIV/Aids e as Infecções Sexualmente transmissíveis (ISTs).
Ao passo que agradeceu a todos pelas orações dos colinenses e niquelandenses durante o período em que sua bebê esteve internada, Iran do Lago disse que a população dos dois municípios precisam reforçar os cuidados com a prevenção da proliferação do mosquito Aedes Aegypti.
Segundo ele, embora a morte da pequena Maria Cecília não tenha sido diretamente ocasionada pela picada do inseto-transmissor da doença (pelo fato da UTI ser um ambiente refrigerado e controlado, no sexto andar do hospital onde a criança estava internada) o sentimento dele como pai; e de sua esposa, como mãe; é para que todos devem estar muito atentos à limpeza de quintais, de lotes baldios, e de objetos que possam acumular água parada, onde o Aedes Aegytpti se reproduz.
“A gente queria nossa filha de volta, em casa, mas Deus sabe o propósito de tudo na vida da gente. No atestado de óbito dela, inclusive, consta inclusive que a principal causa da morte foi justamente a dengue hemorrágica, que foi muito violenta. A investigação deles [do hospital] aponta realmente para a questão da transfusão. O que mais me comove é justamente ter perdido nossa filha para uma doença como essa. Por isso, quero chamar a atenção sobre isso para que cada um faça sua parte para evitarmos muitas outras mortes; e tudo o que a minha filha sofreu, em seus últimos dias”, emocionou-se o ex-prefeito de Colinas do Sul.
VELÓRIO E ENTERRO – O caixão com o corpo da pequena Maria Cecília Lago Arantes está sendo trasladado de São Paulo para Niquelândia por via terrestre, desde o início da tarde de hoje.
O velório está previsto para ocorrer a partir das 9 horas da manhã desta sexta-feira/10 no salão da Funerária Serpos, na Avenida Anapolina.
Será uma despedida breve: o cortejo do local para o Cemitério Municipal São José, na Vila Mutirão, está previsto para ocorrer logo em seguida, às 10 horas. A bebê será sepultada juntamente com os gêmeos que Graciele perdeu no sexto mês de gestação, em janeiro do ano passado.