Com reajuste inferior ao desejado, professores da rede municipal encerram greve de 41 dias em Niquelândia
Categoria conseguiu pouco mais de 13% de aumento nos salários, bem abaixo dos 33,24% determinado este ano pelo Ministério da Educação para o piso salarial da categoria: defasagem sobre o piso atual, de R$ 3.845, ainda é de 70% na cidade do Norte
Professores da rede municipal de ensino de Niquelândia retornam definitivamente às salas de aula nesta segunda-feira/10 com reajuste de 13,24% sobre o salário-base e dos educadores e de 15,61% para o pessoal administrativo, após o Ministério Público (MP) intermediar as negociações entre a prefeitura e o Sindicato dos Trabalhadores na Educação em Goiás (Sintego).
Iniciada em 25 de agosto, a paralisação durou 41 dias e foi encerrada no final da tarde da sexta-feira/7 em assembleia na sede local do Sintego, no Bairro Nossa Senhora do Carmo.
Dada a necessidade de manter pelo menos 50% dos professores em sala de aula, a greve foi realizada em semanas alternadas na cidade com parte das escolas funcionando e outra parte fechadas.
Cerca de 270 educadores aprovaram a proposta do Poder Executivo depois de seguidos impasses entre a pasta comandada pelo secretário municipal de Educação, Wesley Campos; e o sindicato presidido localmente pela professora Maria Silvestre da Silva
Segundo ela, a entidade classista pleiteava 33,24% de recomposição salarial no vencimento básico – conforme percentual estabelecido este ano pelo Ministério da Educação para elevação do piso salarial da categoria – e também o reajuste da data-base para os funcionários administrativos das escolas.
“O que houve, nessa negociação com a prefeitura, foi um aumento de salário e não uma recomposição salarial de acordo com nosso piso nacional. Porém, seguiremos com a mesa de negociação em aberto, com a categoria recebendo pelos próximos três meses o acréscimo desse percentual de 13,24% sobre os salários”, comentou a presidente da Regional Uruaçu/Niquelândia do Sintego.
De acordo com Maria Silvestre, mesmo com o aumento de pouco mais de 13% concedido agora pela prefeitura, o valor do piso na cidade do Norte ainda está com defasagem de quase 70% sobre o vencimento-base de R$ 3.845,63 previsto em lei federal para 2022.
“Sabemos que a prefeitura não tem condições de pagar toda essa recomposição de uma vez. O pessoal do administrativo também tem direito ao reajuste retroativo, de janeiro até agora, que iremos calcular; e ver a possibilidade de estar parcelando [o pagamento, pela prefeitura] a partir de janeiro de 2023. Teremos, também, o percentual do piso do próximo ano dos professores, que somaremos à atual defasagem que existe em Niquelândia”, completou Maria Silvestre, que conversou com o Portal Excelência Notícias na manhã deste sábado/8.
OUTRO LADO – Por volta das 17 horas, o secretário municipal de Educação, Wesley Campos, também fez suas considerações sobre o encerramento da greve de 41 dias dos professores em Niquelândia.
De acordo com ele, houve a preocupação da prefeitura em conseguir manter o pagamento do funcionalismo público em dia e, dessa forma, o município não poderia conceder o percentual de 33,24% pleiteado inicialmente pelo Sintego.
O titular da pasta da Educação relembrou que, antes da aceitação dos 13,24% ofertado pelo município aos professores, houve diversas tentativas de negociação frustradas, até então, com a categoria da qual ele também faz parte.
A primeira tentativa de acordo sobre a questão do piso dos professores foi, segundo Wesley, parcelar o pagamento da defasagem salarial destinando cerca de R$ 300 mil a R$ 350 mil mensais para tal finalidade a exemplo do Termo de Ajuste de Conduta (TAC) – que quitou cerca de R$ 12 milhões em vencimentos atrasados da Educação após acordo firmado ainda em 2019 entre o MP, Sintego e prefeitura – o que não foi aceito neste ano pelos professores.
O secretário, no entanto, destacou que posteriormente à essa tentativa de negociação, o Poder Judiciário determinou que a Prefeitura de Niquelândia pagasse cerca de R$ 8,5 milhões em precatórios [indenizações judiciais em função de processos sofridos por gestões anteriores] o que também dificultaria para o município honrar um novo parcelamento semelhante ao TAC de três anos atrás.
“Quando a categoria decidiu pelas paralisações [esporádicas, inicialmente] oferecemos, então, esse parcelamento em torno de R$ 350 mil/mês a partir de janeiro do ano que vem, assim que o município terminasse o pagamento desses precatórios agora em dezembro. Mas a categoria também não aceitou; foi para a greve; e começamos a pensar como oferecer algo de forma mais imediata”, explicou o titular da pasta da Educação.
Em novos cálculos juntamente com a pasta de Finanças, Wesley apresentou proposta de reajuste de 10,16% nos salários dos professores, percentual esse equivalente ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) acumulado nos 12 meses de 2021, o que também foi rechaçado pela categoria.
“Fizemos mais alguns ajustes nas propostas, rejeitadas mais duas vezes pelos professores; e agora (ontem) colocamos o percentual de 13,24%, encerrando assim a greve. Esperamos, agora, que consigamos terminar o ano letivo e realizar os cortes necessários [nos gastos da administração municipal] para que possamos manter o pagamento em dia, que é o desejo do prefeito Fernando”, comentou o secretário de Educação de Niquelândia.
A Constituição Federal de 1988 determina que as prefeituras invistam o mínimo de 25% de suas receitas na manutenção das necessidades das secretarias municipais de Educação.
Em Niquelândia, segundo Wesley, a atual gestão aplica 47% de seu volume de recursos na pasta.
O calendário de reposição de aulas até o final do ano, findada agora a greve, será discutido entre o secretário e a presidente do Sintego no decorrer da próxima semana.