Opinião

CARTA A UM ASSASSINO

Lu Albernaz

“Você abriu o peito de uma mãe e arrancou seu filho, seu protetor, seu chão. Nilton era o filho que toda mãe sonhava ter: amoroso, cuidadoso, que não media esforço pra ver o seu sorriso…

Por esse filho ela vendeu Avon, roupas de porta em porta e ensinou que estudar era importante, assim como o respeito e amor ao próximo!

Com a sobrinha Duda mimava, amava, cuidava protegia, tornou-se pai. Era uma espécie de super-herói.

Até falou recentemente que queria que ela se tornasse uma grande mulher e que a ensinaria esse caminho com muito amor!

Sempre atencioso com as tias, era quem as levava às consultas e tomava toda e qualquer iniciativa para também protegê-las, ajudá-las!

Desde criança trabalhou – foi engraxate, professor – e seguindo os conselhos da mãe, assim como valorizando todo o seu esforço, formou-se a duras penas em contabilidade, em uma universidade pública!

Pouco a pouco, conquistou seu espaço e tornou-se um profissional respeitável e exemplar.

Mais que isso, como ser humano, por onde passava cultivava sempre alegria e amizade!

Na família era apaziguador das confusões e sempre dizia que só o amor deveria ser alimentado, não o ódio!

Bem disposto, ele nunca teve o direito sequer de demonstrar qualquer tipo de fragilidade!

Sempre forte, não reclamava se fosse nocauteado pela vida e apenas dizia: Deus está comigo!

Assim seguia sendo o porto e o ponto de acolhimento de toda a família e a alegria das muitas primas, que orgulhosas desfilavam com um homem bonito, gentil e vaidoso!

A todo tempo questionava se seu perfume ia bem com sua pele, se estava mesmo bonito. E sim, ele sempre estava. Suas inúmeras selfies – que ele inclusive adorava – comprovam isso!

Nas viagens tornava-se, em minutos, o melhor amigo de todos: crianças, homens, mulheres, independentemente de idade, posição social, sexualidade ou religiosidade.

Em uma mistura de português, espanhol e até francês, pessoas dos Estados Unidos, Grécia, Marrocos, Espanha, Itália, França, Honduras, México, Bélgica, Ilhas Cayman, entre outros, foram convidados por ele a conhecer Goiás e a culinária goiana, a qual ele dizia ser a melhor do mundo!

Em Niquelândia – sua cidade natal e lugar no qual cresceu – sempre lutou em favor dos menos favorecidos e bem estar das crianças.

Acreditava que a educação era a única arma eficiente e capaz de salvar futuras gerações!

Você, assassino, tirou mais que uma vida! Tirou sorrisos, sonhos, planos e o futuro de muitas pessoas, além de cruelmente interromper, aos 41 anos apenas, a história de quem tinha uma fome infinita de viver!

Sem o Nilton, sem respostas à tamanha crueldade, os dias arrastam-se enquanto somos obrigados a encontrar forças, sabe-se lá onde, para continuarmos a viver em um lindo País onde as conquistas – ao invés de comemoradas – precisam serem escondidas até por segurança à própria vida, ainda que conquistadas com muito suor e lágrimas.

Infelizmente o final de quem ousa desafiar essa desordem também pode terminar em lágrimas, mas desta vez dos familiares sobre o sangue de seus entes queridos!”

 Lu Albernaz, prima de Nilton de Paula Ferreira, é niquelandense residente em Bruxelas, na Bélgica

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