Família implora por vaga em UTI para mulher de 52 anos intubada neste sábado após 17 dias de internação em Niquelândia
Após contrair Covid-19 e não apresentar melhoras, Zilda Pereira dos Santos foi internada no dia 24 do mês passado no Hospital Municipal, mas transferência esbarra na burocracia do SUS via Estado e prefeitura: quadro grave, com suspeita de leucemia e iminente risco de morte, obrigaram intubação da paciente hoje
Familiares de Zilda Pereira dos Santos, de 52 anos – moradora no Jardim Atlântico, em Niquelândia – aguardam desesperadamente, há 17 dias, que o Complexo Regulador Estadual (CRE) da Secretaria Estadual de Saúde providencie a imediata transferência da paciente para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em hospital de alta complexidade do Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia, Anápolis ou Uruaçu.
Daslete Soares Batista, uma das filhas de Zilda, procurou o Portal Excelência Noticias na manhã deste sábado/12, para detalhar o caso.
Por volta das 11 horas de hoje, Zilda foi intubada no Hospital Municipal Santa Efigênia, onde encontra-se internada desde o último dia 24 de janeiro.
Segundo Daslete, sua mãe apresentou sintomas gripais no começo deste ano e foi diagnosticada com Covid-19 no dia 12 de janeiro, após fazer o teste para detecção da doença.
Na sequência, Zilda iniciou o tratamento com isolamento domiciliar fazendo uso dos medicamentos que foram receitados para amenizar os sintomas do coronavírus.
Depois, como o quadro de saúde da mãe não melhorava, a família retornou ao PSF da segunda etapa do Jardim Atlântico onde teria recebido o diagnóstico de que Zilda ainda estaria com Covid.
Intrigada com a resposta, Daslete providenciou que a mãe fizesse um exame para verificar se a mulher havia contraído dengue, mesmo sem um pedido formal da equipe médica.
O resultado do exame, de acordo com Daslete, foi positivo para dengue. De volta ao PSF, o médico que a atendeu teria a diagnosticado um quadro de dengue hemorrágica.
Mesmo assim, ela não teve providenciada sua internação no Hospital Municipal Santa Efigênia nesse primeiro momento, informou Daslete.
“Minha mãe continuou em casa e, depois, começou a sentir muitas dores nas pernas. Ela gritava de dor, falava que era câimbra, mas essa dor nunca passava. Ela foi ficando cada vez mais ruim e inquieta – sentava no sofá, na cadeira, ia para a cama – e não queria mais comer, mesmo tomando os remédios passados pelo médico. Nós voltamos no ‘postinho’ [o PSF] por duas vezes, porque ela continuava [doente] do mesmo jeito”, detalhou a filha, em áudio enviado ao WhatsApp do Excelência Notícias.
Ainda de acordo com Daslete, a mãe foi submetida a novo exame de sangue para dengue, além de um hemograma completo.
Com esses resultados em mãos, a família procurou novamente o PSF do Jardim Atlântico onde o médico constatou a gravidade do caso de Zilda e a encaminhou para o Hospital Santa Efigênia no dia 24 de janeiro, ocasião em que ela foi internada com a suspeita de dengue hemorrágica apontada anteriormente.
“A situação dela só foi piorando, piorando. Os médicos pediram diversos exames de sangue e um ultrassom, além de tomografia que fizemos nela por conta própria, que acusou 5% de comprometimento pulmonar. Um outro exame apontou que ela também estava com um quadro de trombose; e a médica que a atendeu também levantou a hipótese de leucemia [câncer no sangue], dizendo que minha mãe precisaria passar por uma consulta com um hematologista em Goiânia”, afirmou Daslete.
Depois disso, sempre de acordo com a filha, a família segue no aguardo pela transferência de Zilda para um leito de UTI. Até que ela fosse intubada, neste sábado, Daslete detalhou que a mãe piorou cada vez mais nesses 17 dias, sendo necessário inclusive receber transfusões de sangue com bolsas trazidas de Ceres, também em função de um quadro de anemia.
“Para completar, minha mãe parou de alimentar, começou a receber suplementos alimentar [por sonda] por recomendação da médica, parou de se virar sozinha na cama e, para completar, ainda pegou pneumonia. Nós já fomos em tantos lugares pedir ajuda [para ela ser transferida para uma UTI]; fomos atrás de vários políticos; vereadores; de deputados; do prefeito [Fernando Carneiro] mas ninguém nos deu ainda uma resposta [sobre a vaga] e a família está desesperada, pois um joga a culpa no outro, empurrando com a barriga; e não sabemos mais o que fazer porque agora, intubada, minha mãe está entre a vida e a morte aqui em Niquelândia”, desabafou a filha de Zilda.
RESPOSTAS – Repassado ao Excelência Notícias pela família de Zilda, o relatório atualizado sobre o quadro clínico da paciente foi assinado neste sábado/12 pelo médico Gledson Souza Maia.
No documento, consta a informação que Zilda encontra-se internada em estado grave; e que a liberação da vaga de UTI, já solicitada anteriormente pela Secretaria Municipal de Saúde de Niquelândia, fora negada pelo Complexo Regulador Estadual (CRE) da SES-GO.
No mesmo teor, Gledson Maia confirmou que, além do quadro de trombose venosa profunda, existe a suspeita de que Zilda esteja acometida também por uma leucemia linfoide aguda [um tipo de câncer no sangue causado por um linfócito – célula responsável pela defesa do organismo que sofre mutação na medula óssea por algum erro no DNA] – e que a realização de um exame específico [mielograma] ainda não foi possível pela instabilidade do quadro clínico da paciente.
A secretária de Saúde, Cida Gomes, detalhou que o agravamento do quadro de saúde da paciente, com sua intubação no dia de hoje, motivou o encerramento de três pedidos da vaga de UTI que a pasta sob seu comando enviou ao CRE; e que um novo pedido foi inserido hoje no sistema da Secretaria Estadual de Saúde, com a informação atualizada da evolução negativa de Zilda no Hospital Municipal Santa Efigênia.
Ainda de acordo com Cida, a intubação também obrigou que a Secretaria de Saúde de Niquelândia reforçasse a necessidade de a que o eventual transporte de Zilda para uma UTI ocorra através do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu 192), que agora somente poderá ser feito pela USA (Unidade de Suporte Avançado) do Samu de Uruaçu que funciona como uma UTI Móvel.
“A paciente em questão está recebendo tratamento na nossa unidade desde o dia 24 de janeiro. Aguardava vaga nas duas regulações, Samu 192 e CRE. Porém, CRE recusou por três vezes essa regulação sob a alegação que [o caso de Zilda] ‘não se enquadrava no perfil’ [de atendimento] das suas unidades. Hoje [sábado] inserimos novamente a paciente no sistema do CRE e mantivemos a regulação do 192, devido a piora do quadro. Trata-se, de fato, de uma paciente grave e necessitamos de uma vaga de UTI para ela, com a máxima urgência”, afirmou a secretária de Saúde de Niquelândia.
GOVERNO DO ESTADO RESPONDE AO PORTAL EXCELÊNCIA NOTÍCIAS
Procurada pelo Excelência Notícias no início da tarde de hoje, a Assessoria de Imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) enviou a seguinte Nota Oficial, às 17h30 deste sábado, a saber:
“Em resposta às questões desse veículo de comunicação sobre regulação de vaga da referida paciente, a Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) informa o que segue
Neste sábado (12/02), um pedido de internação de urgência em Unidade de Terapia Intensiva UTI) para a paciente Z. P. S. foi inserido no sistema do Complexo Regulador Estadual (CRE), com a recomendação de suporte em hematologia. As unidades com essa vaga não são reguladas pelo Estado, que, em atenção ao caso, tem orientado as equipes solicitantes sobre os fluxos adequados a serem seguidos.
Em solicitações anteriores do hospital ao CRE, as equipes reguladoras e de assistência mantiveram diálogo constante sobre o caso.
O Estado orientou o município a solicitar a vaga especializada na rede de Anápolis, via Samu de Porangatu, que é a referência da Macrorregião Centro-Norte, onde se localiza Niquelândia.
As regulações responsáveis pelas unidades que dispõem do serviço especializado que a paciente necessita (UTI com suporte em hematologia) estão localizadas em Anápolis e Goiânia, e são coordenadas por esses municípios, a partir do recebimento de recursos federais.
Em contato com o Samu de Porangatu, o CRE foi informado que o caso foi solicitado somente à regulação de Goiânia e que a paciente aguarda a liberação da vaga.
Entretanto, estão trabalhando para solicitar à Anápolis.
Por fim, a SES-GO informa que, mesmo não sendo a reguladora da vaga que a paciente necessita, acompanha o caso e segue à disposição para orientar as equipes envolvidas”.
Secretaria de Estado da Saúde de Goiás