Empresário que fez carreira com gado confinado na Austrália reinaugura BBQ Emporium em Niquelândia

Filho e neto de niquelandenses, o empresário Marcelo Soares Ribeiro já teve a própria vida contada num livro intitulado “Arregaçando as Mangas”, título bastante sugestivo que fará bastante sentido no decorrer desta reportagem especial do Portal Excelência Notícias.

Mas, numa futura reedição dessa obra, um novo capítulo precisará ser acrescentado: a reinauguração do BBQ Emporium, ocorrida na manhã desta sexta-feira (11) na avenida Getúlio Vargas, região central de Niquelândia, próximo da sede da Apae.

Os preços, garante ele, estão 50% menores desde que o negócio foi aberto em dezembro do ano passado, inicialmente em sociedade com seu cunhado.

Agora sozinho à frente da empreitada-piloto na cidade onde viveu sua adolescência, Marcelo busca projetar a marca BBQ Emporium em Goiás e em outras regiões do País.

Praticamente desconhecidos no Brasil, cortes diferenciados de carnes bovinas [como filet de costela e ancho] são vendidos no local em peças inteiras e congeladas, todas embaladas à vácuo, o que confere prazo de validade maior aos produtos.

“Para mim, uma carne nobre pode ser uma rabada, que é uma carne barata. Ela é diferente, por exemplo, de uma peça de angus, que é cara e tem um marmoreio muito bom [a gordura impermeada na carne]. Esse entendimento do que seria uma carne nobre varia muito do gosto de cada cliente”, detalhou o empresário.

Na BBQ Emporium, você também encontra carnes tradicionais como picanha [R$ 41 o quilo]; cupim [R$ 35 o quilo], alcatra, linguiça, carneiro importado da Argentina e Uruguai; e cortes de frango.

Mas o grande diferencial é a oferta também de todas as carnes em pequenas porções de 200 gramas [grelhadas na hora, na chapa, com acompanhamentos como arroz, feijão, salada e mandioca] para serem saboreadas em casa pelos consumidores, tanto no almoço como no jantar.

Há, ainda, a opção por um delicioso frango assado, inteiro. A BBQ Emporium também comercializa variados temperos especiais para churrasco, além de bebidas como cervejas, refrigerantes e sucos engarrafados.

HISTÓRIA – Ao Excelência Notícias – para quem contou sua rica trajetória de vida na tarde da quinta-feira/11 – Marcelo detalhou que se projetou profissionalmente na Austrália, onde morou por 19 anos sempre atuando com confinamento de gado de corte.

Filho do juiz aposentado José Barbosa Ribeiro – que atuou na Comarca de Niquelândia entre 1974 e 1985 – o empresário nascido em Goiânia em 1977 divide-se há um ano e três meses entre a capital e a cidade do Norte para dedicar-se aos cuidados com a saúde do pai desde o início da pandemia da Covid-19.

O ex-magistrado foi casado com a niquelandense Cândida Soares Ribeiro. A mãe de Marcelo, por seu turno, era filha de Benedito Soares Adorno, o popular Sinhozinho, falecido em 1986.

Seu avô, relembrou, levava seu gado de Niquelândia até Paracatu/MG a pé, percorrendo cerca de 600 quilômetros.

Em 1974, contou o empresário, José Ribeiro comprou a Fazenda Bagagem [na região do Rio Bagagem e do Córrego Forquilha], onde criava gado de corte.

“Eu era menino e lembro que meu pai gostava muito de pescar. Ele era juiz e o negócio dele era ser juiz”, disse Marcelo.

Como a criação de gado não era uma atividade que o então juiz gostasse muito, Marcelo foi tomando gosto pelo negócio. Numa família de advogados e juízes, foi visto como o ‘patinho feio’ ao decidir estudar cinco anos de Zootecnia na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO), em 1994.

“A minha mãe queria que eu estudasse veterinária, mas eu nunca me daria bem com essa questão de operar animais”, disse, com bom humor.

Pouco antes da formatura, em 1999, surgiu a oportunidade para Marcelo estagiar na área de transferência de embriões em bovinos e fertilização in vitro em Brisbane, na Austrália.

O primeiro período de permanência na Oceania foi pequeno: nove meses, oportunidade em que fez viagens a trabalho para várias cidades australianas e do país vizinho, a Nova Zelândia.

No retorno para o Brasil, no ano 2000, Marcelo focou suas atenções em Goiânia onde atuou como empresário do ramo de carnes e confinamento de gado, após sua primeira experiência profissional do outro lado do mundo.

E a expressão não é figura de linguagem: a diferença entre o fuso horário do Brasil e da Austrália é de 13 horas.

Mesmo em Goiás, ele não perdeu o vínculo com os australianos: Marcelo tornou-se diretor da Câmara Oficial de Comércio Brasil Austrália [que é ligada à Embaixada da Austrália no Brasil] onde fomentou o intercâmbio de empresas do ramo do agronegócio entre os dois países, nas áreas de suco de laranja e de mineração.

Quando ele assumiu o cargo, o comércio bilateral Brasil-Austrália era de 300 milhões de dólares/ano. Cinco anos depois, a cifra atingiu incríveis 2 bilhões de dólares/ano.

Segundo ela, esse montante também impulsionado pelo grande número de brasileiros – destes, alguns niquelandenses – que investiram em sua formação profissional graduando-se em escolas e universidades australianas.

Durante seis anos, o empresário fez 24 viagens entre Brasil e Austrália, permanecendo naquele país por períodos que variavam entre 30 e 60 dias.

“Toda vez que ia eu dizia que seria a última vez pois não me sentia enraizado lá. Eu nunca pensei em morar fora do Brasil. Meu desejo, para te dizer a verdade, era ter voltado para morar em Niquelândia, pois era acostumado a morar na beira do [rio] Bagagem”, afirmou Marcelo, cujos filhos são nascidos na Austrália.

Entre 2005 e 2006, sua empresa em Goiânia quebrou; e o então empresário virou ‘apenas’ um vendedor bem experimentado de carnes, como cupim e picanha, em sua área de atuação.

Reservado, ele não fala em números. “Paguei todas as dívidas que eu tinha”, resumiu.

O retorno definitivo de Marcelo para a Austrália ocorreu ainda em 2006, aos 29 anos. Lá, começou de baixo novamente: sem pestanejar, dobrou o punho da camisa para colher mangas pela manhã e embalar os frutos à tarde – sozinho, durante três meses – na cidade de Perth.

“Fui morar num albergue com 10 pessoas no mesmo quarto, onde dormia num colchão sem forro, só na espuma mesmo”, resgatou o empreendedor niquelandense.

A PROXIMIDADE COM O GRUPO JBS – Nessa ocasião, um novo e decisivo momento de prosperidade apareceu na vida do proprietário da BBQ Emporium.

Em 2007, Marcelo recebeu uma ligação da tradicional empresa norte-americana Swift, que também possui operações na Austrália.

“Eles [da Swift] buscavam um tradutor para uma família brasileira que havia comprado a empresa, mas que não falavam inglês”, relembrou.

Dada sua experiência com frigoríficos – mas às pressas e com roupas emprestadas – Marcelo conheceu o empresário José Batista Júnior, conhecido como Júnior Friboi, do Grupo JBS, que estava em franca expansão de seus negócios.

Fundada em Anápolis em 1953, a JBS é um dos maiores conglomerados do mundo processamento de carnes bovina, suína, ovina e de frango e no processamento de couros.

Hoje – em alusão ao ano de fundação da então Casa de Carnes do Zé Mineiro – a BBQ Emporium comercializa em Niquelândia a linha de carnes com a marca “1953”: são bifes de picanha produzida com gado Nelore brasileiro, precoce e confinado, com melhor acabamento de gordura e preço relativamente acessível, de acordo com o empresário.

Por dois anos, o proprietário assessorou o conglomerado de empresas da JBS. Além de intérprete, Marcelo se tornou uma pessoa muito próxima de Júnior Friboi e de seu irmão, Joesley Batista.

“Minha relação com eles [os irmãos Batista] era de muito respeito. Pude ajuda-los bastante na área de Recursos Humanos, levando 364 famílias de brasileiros para trabalhar em frigoríficos na Austrália, mudando por completo a vida dessas pessoas, que se tornaram cidadãos daquele país por lá viverem há mais de dez anos”, detalhou.

Em 2009, o empresário niquelandense estreitou relações com outro grupo empresarial, que fornecia gado para a JBS. Formou sociedade com essa família australiana – detentora da empresa Mc Donald [não confundir com a rede de fast-food].

Por causa da morte de seu proprietário, aos 41 anos, Marcelo passou a cuidar também da parte do negócio que era do antigo sócio. Há 14 anos, desde então, Marcelo empreendeu com a Pindora Foods.

Com operações de confinamento de gado no Brasil, Estados Unidos e Austrália, a Pindora Foods atualmente exporta sua produção de carne com marca própria para um total de 26 países.

E o melhor de tudo: mais do que vender carnes, a BBQ Emporium nos conta uma linda história, iniciada justamente em Niquelândia pelo garoto Marcelo, que não teve medo de arregaçar as mangas e colher os frutos do seu trabalho.