Amarildo Pimenta comanda primeira sessão na presidência da Câmara Municipal de Campinorte
Radialista que enfrentou 'figurões' da política local nos últimos anos - denunciando desmandos - foi reeleito vereador em 2020: apesar da promessa de apoio à gestão do prefeito Cleomar Martins de Araújo/PSL, comandante do Legislativo diz que será juiz, diante de coisas erradas, se for necessário
Dono de uma voz potente – conhecida em todo o Norte do Estado – o combativo radialista Amarildo Pimenta Novaes (Podemos) elegeu-se em outubro para seu segundo mandato consecutivo como vereador na Câmara Municipal de Campinorte. Aos 59 anos, o também empresário do ramo de autoescolas agora ocupa a presidência da casa de leis da cidade de 12 mil habitantes, às margens da BR-153. Nessa condição, no final da tarde da quarta-feira (20), Amarildo comandou a primeira sessão ordinária do Poder Legislativo Ao final dos trabalhos, o presidente da Câmara concedeu entrevista ao Portal Excelência Notícias, quando delineou a relação política que terá com o prefeito Cleomar Martins de Araújo (PSL) diante dos desafios administrativos à mesa do recém-empossado chefe do Executivo. Confira, abaixo, a íntegra da nossa conversa com o vereador Amarildo Pimenta:
Portal Excelência Notícias – Como foram as articulações feitas pelo senhor, junto aos demais vereadores de Campinorte, para assumir a presidência da Câmara Municipal?
Amarildo Pimenta Novaes – Olha, por incrível que pareça, fui convidado pelos novos vereadores – que ficaram um tanto quanto receosos por estarem chegando agora em nossa casa de leis – entendendo que precisavam de mais orientação [sobre trâmites burocráticos internos] e pediram que o meu nome, enquanto presidente, pudesse estar lhes acompanhando e nesse início de mandato, orientando-os no sentido de fazer uma boa política em vez de ‘politicagem’. Por isso é que não fiz aquelas conhecidas articulações que os políticos normalmente fazem para presidirem o Legislativo de várias cidades da nossa região.
Excelência Notícias – O senhor, enquanto presidente da Câmara Municipal, como pretende pautar sua relação política com a Prefeitura de Campinorte?Amarildo Pimenta – Eu tenho que reconhecer que o Poder Executivo de Campinorte, dentre outras prefeituras da nossa região Norte de Goiás, é a que apresenta as maiores dificuldades atualmente. Não existe, no presente momento, outras cidades com tantos problemas a resolver como Campinorte, no Executivo. Nossa função é tentar ajudar, ao máximo possível, o Poder Executivo, naquilo que ele precisar. Inclusive, vocês observaram aqui, ele [o prefeito Cleomar] nos mandou, no primeiro dia de sessão ordinária, três projetos de lei [para serem votados em regime de urgência em sessões ordinárias, nos dias 25 e 26]; e o Código de Posturas de Campinorte, para também entrar em discussão nessa casa. Eu estou aqui, na presidência, pronto para poder ajudar ao Executivo, o máximo possível, de braços abertos. Mas, sempre faço questão de lembrar: sou apenas um vereador. Por isso, sobre a questão de votos [em plenário, para aprovação ou não de projetos da prefeitura] isso será da consciência de cada um dos nossos vereadores. Essa questão de ‘fazer a cabeça de um’ ou ‘fazer a cabeça de outro’, esses ‘esquemas’ eu não sei fazer, realmente.
Excelência Notícias – Sua preocupação, penso eu, diz também respeito sobre a importância da manutenção da independência entre os poderes Legislativo e Executivo… Amarildo – Ah, isso é indiscutível. O Poder Executivo tem a função dele, de cuidar do povo e da nossa cidade, com pouco mais de R$ 3 milhões por mês para isso. Nós, do Legislativo, não temos um centavo para cuidar do povo da cidade. O que temos, para fazer, é cuidar da população fiscalizando as leis, o cumprimento do que é certo e correto. Se ele [o prefeito] fizer alguma coisa errada; se houver algum desvio de dinheiro; se houver alguma obra superfaturada; ou qualquer outra violação de leis e de direitos; o Poder Legislativo vai realmente cumprir o papel que é dele. Vamos ajudar o Executivo naquilo que ele precisar. Mas também, se precisar, seremos juízes no exercício da função de vereador.
Excelência Notícias – Sua atuação profissional, como radialista em Campinorte, sempre foi muito polêmica e marcada por uma série de denúncias de irregularidades supostamente cometidas em administrações anteriores da cidade. Como é que está sendo para o senhor desde janeiro de 2017, quando se tornou vereador, ter deixado de ser pedra para se tornar vidraça ?Amarildo – Que pergunta hein? De repórter para outro repórter (risos). É complicado te responder isso. Mas posso te dizer que, quando comecei [a fazer denúncias] – e você, como jornalista, deve estar-se sentindo enojado e revoltado com tanta coisa que acontece no meio político – eu percebi que o máximo que eu podia fazer, como repórter, era denunciar. Quando eu via o povo de Campinorte precisando disso ou daquilo – muitas vezes gastando dinheiro comprar coisas que estavam faltando na Saúde do município – isso encheu a minha paciência até transbordar o copo de água, como se diz. ‘Eu vejo, falo e não acontece nada’, pensei eu, sobre minha atuação como radialista. Eu decidi que não podia mais apenas só ver, mas fazer alguma coisa, efetivamente.
Excelência Notícias – No seu primeiro mandato, houve falhas no cuidado com as verbas públicas voltadas à execução do Programa Criança Feliz, na administração anterior, por exemplo?
Amarildo – Sim. Tivemos um problema com os recursos do Programa Criança Feliz, um dinheiro que vinha do Governo Federal, para atender 100 crianças. E esse dinheiro não estava sendo usado com essa finalidade. Se eu fosse apenas repórter, eu ia apenas fazer uma matéria. Mas, como vereador, eu pude exigir a apresentação de documentos do Poder Executivo, que antes eu não tinha acesso, pois hoje tenho poder de fiscalização. E hoje, essas crianças estão sendo atendidas, apesar das dificuldades impostas pela pandemia. Eu vi como repórter, desde 2013, desvio de quase R$ 400 mil em dinheiro para a conclusão das casas populares do Setor Joviano Pinheiro. Quando eu entrei [como vereador] eu tive o poder de exigir informações e descobri que R$ 157 mil desse dinheiro foi devolvido para o Governo Federal. Muita gente, naquelas casinhas, ficaram com seus imóveis apenas no alicerce; e tiveram de fazer campanha para terminar as obras, sendo que a prefeitura tinha dinheiro na conta. Também reuni provas, como vereador, contra um servidor público que estava desviando dinheiro da prefeitura e foi exonerado. Hoje, mais que denunciar, eu tenho o poder de corrigir e fazer leis pelo bem-estar da nossa população de Campinorte.
Excelência Notícias – Um desses seus projetos, salvo engano, concedeu isenção de pagamento do IPTU para idosos que moram na cidade. Outra preocupação sua diz respeito a necessidade da construção de um abrigo para idosos aqui em Campinorte, correto?Amarildo – Verdade. O idoso que mora em sua casinha simples, com renda de até três salários mínimos, não precisa mais pagar IPTU aqui em Campinorte. É um dinheiro que sobra para essas pessoas comprarem alguma coisa que precisam ou mesmo fazerem uma festinha, não é mesmo? Sobre a questão do abrigo, somos praticamente a única cidade de todo o Norte Goiano que ainda não possui um espaço adequado para o acolhimento dos nossos idosos. Por isso, apresentei um projeto de lei para obrigar, ao Poder Executivo, que destine uma assistente social para ser responsável pelo cadastro de pelo menos 30 idosos para visita-los semanalmente, e verificar se estão precisando de alguma coisa como remédios, exames e alimentos. São ações gratificantes, como essa que hoje eu posso fazer como vereador.
Excelência Notícias – Nos últimos anos, na Prefeitura de Campinorte, a alternância no Poder Executivo ficou muito restrita aos grupos políticos dos ex-prefeitos Wander Borges e Francisco Correia Sobrinho. A eleição do contador Cleomar ao cargo de prefeito da cidade é uma ruptura com o círculo vicioso que existia com a saída de um e a entrada de outro, no comando da prefeitura?
Amarildo – A raiz de tudo isso que você citou é mais antiga com o pai do Wander, o [ex-prefeito] Valdo Borges [que morreu em abril de 2005, no início do terceiro mandato]. Foi ele [Valdo] que praticamente elegeu o [ex-prefeito] Tião Elói. E, depois disso, o próprio Valdo foi eleito prefeito novamente. Quando o Valdo morreu, o Chicão era o vice e disputou novas eleições para prefeito, tendo o Vander como seu vice, até 2008. Nesse ano, eles romperam politicamente e o Wander venceu as eleições. Em 2012 e 2016, o Chicão foi eleito e reeleito, respectivamente. O Chicão teve, então, três mandatos. O Wander, apenas um. Ou seja, nos últimos dez anos, foram sempre eles. E agora chegou uma nova esperança, hoje. Ainda não sabemos o futuro de Campinorte mas, com a chegada do Cleomar como prefeito – veja, ele foi candidato a vereador em outras oportunidades e não se elegeu – está aberto um novo rumo político para Campinorte, onde também foram eleitos dois dos mais jovens vereadores do Estado de Goiás. Eu me sinto gratificado por ter, de alguma forma, ajudado a plantar há alguns anos essa semente, que hoje eu vejo nascer, com a integridade desses jovens que hoje estão entrando para a política. E olha, anota aí, porque eu sou um pouco profeta (risos). Dessa atual Câmara Municipal, temos quatro vereadores com reais condições de disputar a prefeitura em 2024.