Para enfrentamento do novo coronavírus, Niquelândia reorganiza estrutura interna do Hospital Municipal
Em longa e detalhada entrevista exclusiva ao Portal Excelência Notícias, diretor-clínico Gledson Maia faz um verdadeiro raio-x sobre a situação do único hospital público da cidade do Norte do Estado diante das necessidades impostas à Secretaria de Saúde pela pandemia de Covid-19
Apesar de ter apenas dois casos confirmados de Covid-19 – ambos importados de outros Estados – a Prefeitura de Niquelândia desenvolveu um planejamento estratégico para que o Hospital Municipal Santa Efigênia possa suportar eventual aumento da demanda para atendimento de pacientes infectados pelo novo coronavírus na cidade do Norte do Estado.
Nesta quinta-feira (14), boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde aponta que Goiás registra, até o presente momento, 1.423 casos confirmados de Covid-19. Desse número, foram contabilizados 64 óbitos.
Segundo o diretor-clínico do hospital municipal de Niquelândia, Gledson Maia, a primeira medida foi a reestruturação interna da unidade – com definição clara dos leitos que seriam destinados ao isolamento de eventuais pacientes com quadro clínico agravado pelo novo coronavírus – até a regulação e transferência desses possíveis pacientes para um hospital de referência em Goiânia.
De acordo com o médico, as mais recentes estimativas apontam que 70% da população mundial contrairá o novo coronavírus, caso a vacina não seja logo desenvolvida.
Por essa estimativa – considerando-se que Niquelândia tem cerca de 45 mil habitantes – ao menos 31.500 pessoas do município poderão ser infectadas pelo Covid-19 no decorrer de toda a pandemia.
Um número que parece ser absurdo, mas perfeitamente possível, se o isolamento social for completamente abolido.
“Desses 31.500 pessoas que poderão contrair o novo coronavírus, 80% delas (algo em torno de 25.200 moradores) serão pacientes assintomáticos [sem sintomas visíveis]. Outros 20% (cerca de 6.300 pessoas) vão apresentar sintomas. Desse número, pelo menos 10% (630 pessoas) vão precisar de hospitalização. Dessas 630, um percentual de 3% (cerca de 19 pessoas) terá chance do quadro clínico evoluir com gravidade e vão precisar de atenção especializada num hospital de referência. Isso é apenas uma estatística, olhando gráficos de outras localidades. A gente nunca sabe como o vírus vai se comportar em determinado município, em determinado local, por questões que envolvem padrões de vida diferentes. Mas, se não fossem tomadas as medidas de distanciamento social, essa seria a nossa realidade [a explosão descontrolada do número de casos] Diante disso, houve grande preocupação [da Secretaria Municipal de Saúde] porque nós precisaríamos ampliar o hospital”, afirmou o diretor-clínico, em entrevista exclusiva por telefone ao Portal Excelência Notícias, no início da tarde desta quinta-feira (14).
Hoje, segundo ele, o Hospital Santa Efigênia conta com um total de 64 leitos, que eram divididos em duas alas. Enquanto a ala 1 era destinada à internação nas áreas de pediatria e maternidade, a ala 2 servia ao atendimento clínico-cirúrgico de pacientes adultos.
Porém, diante da possível necessidade de ter uma área de isolamento maior, foi necessário um reordenamento interno dessas divisões, sempre de acordo com o diretor-clínico do hospital.
“Nós remanejamos todos os pacientes da ala 1 para a ala 2 e, com isso, a ala 1 inteira foi destinada exclusivamente para que pudéssemos ter de 22 a 26 leitos de isolamento específicos para pacientes em tratamento da Covid-19”, contabilizou Gledson
Ou seja – sem as severas restrições de circulação de pessoas imposta por 30 dias pelos dois decretos estaduais e municipais – é fácil concluir que o Hospital Municipal de Niquelândia não teria estrutura para comportar tamanha demanda.
A partir daí, a primeira necessidade imediatamente atendida pela gestão do prefeito Fernando Carneiro (PSD) foi justamente ampliar o número de leitos para isolamento de eventuais pacientes com Covid-19.
PLANO B – Caso seja necessário ampliar a capacidade de atender pacientes em situação de isolamento, a Prefeitura de Niquelândia fará uso da estrutura do antigo Hospital Nossa Senhora d’Abadia, como apoio. A distância entre ambos os hospitais é de apenas 200 metros.
“Todavia, o Hospital Nossa Senhora d’Abadia não tem mais leitos em atividade regular, com equipamentos, mas apenas a estrutura física limpa. Há a necessidade de parcerias para dotar a estrutura de leitos”, afirmou Gledson Maia, ao detalhar o plano de ação do município
Ao Excelência Notícias, o diretor-clínico explicou que o Hospital Municipal de Niquelândia já tinha naturalmente algumas demandas – por recursos físicos, estruturais e profissionais – que vinham sendo supridas com relativa eficiência pelo Poder Executivo.
REFORÇO DE EPI’S – Diante da informação de que o Plano de Enfrentamento do Coronavírus prevê a liberação de R$ 5.776.365,03 do Governo Federal para a Prefeitura de Niquelândia, Gledson Maia aponta a necessidade de que a Secretaria de Saúde garanta a manutenção dos estoques de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s) para médicos e enfermeiros que poderão atuar na linha de frente no combate ao Covid-19. Apesar disso, ele fez uma importante ressalva.
“Antes dessa pandemia nós comprávamos EPI’s com preços mais baratos e usávamos em quantidade muito menor do que agora”, afirmou o diretor-clínico, explicando que a nova realidade faz com que todos os 114 funcionários do Hospital Municipal Santa Efigênia precisem utilizá-los os EPI’s o tempo todo.
“Nem todos os funcionários usavam esses EPI’s. Existia um protocolo diferente, onde apenas funcionários com exposição [aos riscos de contaminação antes do novo coronavírus] os utilizavam. Hoje, mesmo aqueles que não têm esse contato direto, precisam usar o EPI. Esse fator provoca elevação da quantidade necessária desse EPI, que tem tempo pequeno de vida útil .Porém, com a grande demanda do mercado, houve alta exorbitante nos preços, por parte dos fornecedores”, completou o diretor-clínico.
E OS RESPIRADORES ? – Segundo Gledson Maia, o Hospital Municipal Santa Efigênia conta atualmente com dois respiradores em funcionamento. No entendimento dele, dada a pandemia, uma parte dos recursos do Governo Federal [quando liberados] precisarão ser investidos pela prefeitura na aquisição de mais três respiradores [que estão em falta e/ou vendidos a preços altíssimos, no momento atual] para que a unidade tenha cinco equipamentos disponíveis.
Segundo ele, esse quantitativo de respiradores não seria aquém da necessidade pelo fato de pacientes eventualmente em situação crítica precisarão ser transferidos para o Hospital do Servidor Público, referência para o atendimento de casos de Covid-19 oriundos do interior do Estado.
“Mas, até conseguirmos essa vaga, o paciente terá que ser tratado aqui em Niquelândia”, pontuou.
DESAFIOS – Para Gledson Maia, melhorar a estrutura do Hospital Municipal Santa Efigênia é um desafio em andamento. Não havia, na unidade hospitalar, a disponibilidade de uma sala vermelha, que já foi criada; e que precisará ser adaptada para receber os respiradores.
Segundo ele, os custos à compra de medicamentos para outras doenças também estão elevados, em razão da pandemia.
“Ouvimos falar muito em ventiladores, mas o tratamento em si não é só colocar no respirador. Demanda medicações que estão em falta no mercado, como a hidroxicloroquina. E quando as encontramos, os preços estão bem elevados. Como se trata de medicações que não podemos esperar, temos que adquirir antes. Mas, hoje, a Secretaria de Saúde está trabalhando no sentido de proporcionar essa estruturação”, afirmou o diretor do hospital.
PREVENÇÃO – Embora ainda não se verifique transmissão comunitária do novo coronavírus em Niquelândia, Gledson Maia observa que a população precisa ter atitude constante de higienização; de isolamento voluntário; de distanciamento social; e de uso de máscaras de proteção. Um comportamento bem diferente do atual, segundo ele.
“Quando saiu o primeiro resultado positivo aqui em Niquelândia [importado de Manaus, a capital do Amazonas] as pessoas adotaram um comportamento condizente com a política de enfrentamento do coronavírus. Porém, alguns dias depois parece que esqueceram que ainda existe o risco [de infecção] porque as ruas estão cheias; as pessoas estão se aglomerando; e fazendo festa, o que é pior”, lamentou o médico.
Na semana passada, como se sabe, a cidade confirmou um segundo caso positivo, de um homem que regressou de Parauapebas/PA para Niquelândia.
Segundo o diretor-clínico do Hospital Santa Efigênia, toda vez que o comportamento da população niquelandense muda para pior, o risco de contaminação aumenta; e vice-versa. Quando do primeiro caso, lembrou Gledson, o respeito ao isolamento domiciliar surtiu efeito para que a cidade não tivesse novos casos advindos desse primeiro.
“Mas o risco continua evidente. Pessoas chegam de viagem todos os dias; pessoas de Niquelândia viajam e retornam todos os dias. Por isso, a principal medida, por enquanto, é praticar o isolamento social. Quem pode ficar em casa, permaneça em casa; e quem precisar sair terá que tomar os devidos cuidados”, concluiu Gledson. [Texto: Jaldene Nunes, repórter-freelancer do Portal Excelência Notícias. Entrevista/Edição de Conteúdo: Euclides Oliveira, editor-geral]