Contestada pela imprensa, Goianésia recua em ‘manobra aritmética’ que camuflava casos positivos de Covid-19
No Boletim Epidemiológico desta sexta-feira (24), administração Renato de Castro resolveu tirar, na canetada, o número de pessoas curadas do total de pacientes infectados, para minimizar a gravidade do quadro do novo coronavírus na cidade: a manobra, inédita no Brasil, foi corrigida após ser contestada pela imprensa local
“A partir de hoje, os casos de cura/recuperados – e os casos de óbitos – não serão mais contabilizados junto aos casos confirmados”. Foi dessa forma que, na tarde desta sexta-feira (24), a Secretaria Municipal de Saúde de Goianésia informou oficialmente à imprensa da cidade do Vale do São Patrício que adotaria nova “metodologia” de apresentação da realidade da pandemia do novo coronavírus no município. [Porém, dada a rápida repercussão negativa do episódio, o município reverteu a situação divulgando um novo boletim, com a informação correta, que publicamos no final desta reportagem].
Com 27 casos confirmados de Covid-19 num universo de 70 mil habitantes – número pouco inferior ao de Anápolis, cuja população é mais do que cinco vezes maior – a pasta comandada pelo secretário Hisham Hamida chegou a adotar uma estratégia que beira o absurdo.
Em números absolutos, Goianésia é a terceira cidade do Estado com o maior número de casos.
Caso confirmado, em qualquer lugar, será eternamente caso confirmado. Mesmo que o paciente tenha se curado, o correto é que ela permaneça nas estatísticas como alguém que teve a doença.
Essa é a lógica seguida por todas as prefeituras e secretarias estaduais de Saúde, inclusive aqui em Goiás, ao mensurar casos confirmados; os casos suspeitos; os casos recuperados; os casos descartados; e o número de vítimas fatais do novo coronavírus.Correto? Não para a administração do prefeito Renato de Castro (MDB). Ao examinar o Boletim Epidemiológico desta sexta-feira – no grupo de WhatsApp Imprensa de Goianésia, os comunicadores daquela cidade perceberam, inicialmente, uma substancial alteração nos números.
O total de casos confirmados, como num toque de mágica, havia “despencado” de 27 para apenas 6, em apenas 24 horas. Excetuando-se os dois óbitos confirmados por Covid-19 em Goianésia, restavam 25 casos, em breves cálculos matemáticos.
Porém, como o Poder Executivo goianesiense apontava, no primeiro boletim desta sexta-feira, que 19 pacientes foram curados da doença, apenas seis dessas pessoas haviam sido relacionadas efetivamente como casos confirmados na cidade.
SUAVIZAÇÃO DA REALIDADE – “A nova tabela [antes da mudança] ‘suaviza’ a situação, passando de forma inédita no país a considerar como confirmados apenas os que ainda estão infectados. Os que morreram ou que foram curados sumiram da estatística. Para quem é leigo e olha a tabela a sensação é que a situação na cidade está bem tranquila, ao contrário do que realmente querem mostrar”, comentou o jornalista Anderson Alcântara, editor-geral do Portal Goiás Total em Goianésia, em reportagem que produziu logo após a divulgação do primeiro [e fantasioso] boletim.
Ainda de acordo com o Portal Goiás Total, a Prefeitura de Goianésia trata, como confidenciais, informações sobre o quantitativo de pessoas internadas na própria cidade; ou mesmo que foram transferidas para atendimento especializado no Hospital de Campanha (HCamp), montado pelo Governo do Estado em Goiânia.“Esses dados deveriam ser públicos, preservando a identidade dos pacientes, claro”, afirmou o jornalista goianesiense, em seu respeitado veículo de comunicação.
A exemplo do que foi dito no Portal Goiás Total, a direção do Portal Excelência Notícias (com sede em Niquelândia) também entende que a Prefeitura de Goianésia está sendo pouco transparente ao omitir informações – e ao maquiá-las agora, sem nenhum pudor – numa crise mundial que exige maior responsabilidades dos governantes para o enfrentamento do problema.
Porém, depois da divulgação da reportagem do Goiás Total, o município voltou atrás e decidiu alterar [veja imagem abaixo] o boletim, novamente divulgando o número correto de casos confirmados: 27, no total. [Com informações do Portal Goiás Total/Goianésia]