Rigorosa, quarentena em Goiás segue por mais 15 dias. Caiado só libera montagem de feiras livres
Governador reconhece queixas dos comerciantes sobre prejuízos, disse que pediu ao Banco do Brasil que libere linhas de crédito mais acessíveis através do FCO, mas reafirmou necessidade de manter baixa a curva de contágio do coronavírus no Estado
Prorrogado na tarde desta sexta-feira (3) por mais 15 dias, o decreto do governador Ronaldo Caiado (DEM) sobre a necessidade de isolamento social para combater o avanço do novo coronavírus segue rigoroso em Goiás, a partir do domingo (5), até o próximo dia 19 de abril.
Porém, o teor do novo documento abriu algumas pouquíssimas exceções em relação às regras de abertura de estabelecimentos comerciais e de serviços no Estado.
Goiás registra 88 casos confirmados de Covid-19 e dois óbitos. Há ainda 2.138 casos suspeitos e 961 sob investigação, pelo Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen), em Goiânia.
No que diz respeito a locais com grande circulação de pessoas, a novidade é a autorização para montagem das feiras livres, suspensas desde o último dia 20, quando da assinatura do primeiro decreto.
Porém, nesses locais continuam proibidos o funcionamento de restaurantes/praças de alimentação, bem como o consumo de produtos no local, com o intuito de evitar aglomerações.
Em portaria publicada pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), a ordem é garantir higienização frequente de todos os instrumentos utilizados durante a comercialização dos alimentos.O transporte dos hortifrutigranjeiros deve ser realizado em veículos higienizados com álcool 70%; ou com soluções de água sanitária (10 litros de água para 200 ml de água sanitária).
Durante o trajeto, as janelas devem ser mantidas abertas para circulação de ar. Balcões, balanças e utensílios também devem ser constantemente desinfetados.
O QUE MAIS PODE FUNCIONAR – Profissionais liberais – como advogados, por exemplo – podem retomar o trabalho em seus escritórios. Porém, segue proibido o atendimento presencial ao público.
Os cartórios extrajudiciais [tabelionatos, onde são prestados serviços de reconhecimento de firma/assinatura; autenticação de cópias de documento; e lavraturas de escrituras públicas] também tiveram retorno ao trabalho autorizado por Caiado, observando as normas sanitárias já divulgadas pela Corregedoria-Geral da Justiça do Estado de Goiás.
No caso da Educação, o novo decreto autoriza a realização de atividades administrativas das instituições de ensino públicas e privadas de Goiás.
Porém, a nota técnica da Secretaria de Estado da Saúde (SES-GO) – que subsidiou o governador em sua tomada de decisão – determina que as aulas presenciais em escolas, faculdades e universidades permaneçam suspensas até o dia 30 de abril.
O argumento, é claro, é que a aglomeração de pessoas pode contribuir para a disseminação da Covid-19 entre estudantes e professores.
NADA MUDA – A partir do novo decreto, que já está publicado no Diário Oficial do Estado, continua permitida a abertura de borracharias, oficinas, lanchonetes e restaurantes instalados em postos de combustíveis, se situados às margens de rodovia; lojas de autopeças; e ainda estabelecimentos que estejam produzindo exclusivamente equipamentos e insumos para auxílio no combate à pandemia.
OS ARGUMENTOS À PRORROGAÇÃO – Na coletiva de imprensa, Caiado afirmou que o prolongamento das medidas de isolamento foi definido com base em estudos que apontam para o achatamento da curva da Covid-19 em Goiás, o que evitaria um colapso no sistema de saúde.
Sobre as reclamações dos empresários sobre seguidos prejuízos em suas atividades, nos primeiros 15 dias da vigência do decreto de isolamento social, o governador abriu a possibilidade de novas flexibilizações à abertura gradual dos estabelecimentos nos próximos dias.
“Temos sensibilidade e sabemos da importância da área econômica para Goiás. Porém, seria uma falha imperdoável se deixássemos a população correr o risco da proliferação do novo coronavírus”, enfatizou o governador.
Ele explicou que o Estado – em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG) e com o Instituto Mauro Borges de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (IMB, órgão ligado à Secretaria Estadual de Economia) busca impedir que o Estado tenha um quadro grave de disseminação da pandemia, ao passo que também busca um socorro financeiro junto ao governo federal.
“Tanto isso é verdade que, em relação ao FCO [Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste] já solicitei ao superintendente do Banco do Brasil que toda verba seja destinada a micro, pequenas, médias e também às grandes empresas para que todos possam ser contemplados com empréstimos a longo prazo, com juros baixíssimos, e assim manter seus funcionários. É hora de liberar linhas de crédito para dar condições para que os patrões não demitam, para terem acesso ao capital de giro em condições subsidiadas e de longo prazo”, afirmou Caiado.
O governador esclareceu que tem feito o que está a seu alcance, no âmbito do governo estadual, para minimizar os impactos da quarentena na vida das pessoas.
Como exemplo de ações já adotadas pelo governo estadual, Caiado citou a prorrogação do prazo para pagamento do IPVA; a determinação para que a Saneago não corte o fornecimento de água em caso de inadimplência; o mesmo pedido para que não haja interrupção de energia junto à Enel; e o diálogo constante com representantes de todos os segmentos da sociedade em busca de soluções conjuntas.
A QUARENTENA E A CURVA DO CORONAVÍRUS – “O isolamento social é adotado como uma tentativa de reduzir o chamado R0, que mede a capacidade que cada pessoa com Covid-19 tem de contaminar outras pessoas. Há dados de que em Wuhan, (na China, epicentro inicial da doença) esse índice chegou a 4 [ou seja, cada paciente pode ter contaminado outros quatro]; e na Itália, atingiu 6 [seis indivíduos infectados por um único portador do vírus]. O fator em Goiás – devido ao grau de isolamento adotado, está em apenas 1,6. Em países que conseguiram controlar o coronavírus, uma pessoa contaminava somente mais uma. Esse R0 de 1,6 em Goiás pode melhorar ainda mais quando associado ao reforço nos hábitos de higiene da população”, afirmou o secretário estadual de Desenvolvimento e Inovação (Sedi), Adriano Rocha Lima.
Para exemplificar, o titular da Sedi apresentou três cenários, partindo como princípio o dia 27 de março, quando iniciou a transmissão comunitária da Covid-19 no Estado.
No primeiro deles (curva verde) – se Goiás mantiver os mesmos protocolos que já estão em vigor – dentro de 30 dias pode registrar 21 mil casos de coronavírus e cerca de 200 mortes, consumindo 278 leitos de UTI.
Na segunda hipótese [curva azul], ele explica que, se houver intensificação dos hábitos de higiene – aliados ao novo período de isolamento – o número de prováveis casos no Estado pode cair de 21 mil para 9 mil casos.
Haveria menos de 200 óbitos, garantindo assim muitos leitos de hospital e de UTI.
No terceiro e último cenário [curva vermelha] aponta que o relaxamento das medidas de fechamento do comércio e de isolamento social poderia fazer com que Goiás tivesse 110 mil casos de Covid 19 em apenas 30 dias.
Desse total, seriam registrados pelo menos 400 óbitos; e a ocupação de mais 500 leitos de UTI.
Segundo o secretário, como existe tendência de multiplicação dos números diariamente, o relaxamento total das medidas preventivas poderia fazer com que Goiás tivesse 2 milhões de infectados daqui a 40 dias, quando é esperado o pico de contaminação, de acordo com Adriano.
[Com informações da Secretaria de Estado de Comunicação/Secom – Governo de Goiás]