Niquelândia

Câmeras de segurança vão esclarecer acidente que matou duas pessoas no dia 1º, afirma delegado

Gerson José de Sousa, titular da PC em Niquelândia, tomou os depoimentos de Adilson Francisco do Nascimento e de João Lourenço de Gouveia na última semana, para apurar responsabilidades do condutor da Kombi e da Hilux que motivou tragédia na Avenida Brasil, na virada do ano

No final da tarde da sexta-feira (24), o delegado-titular da Polícia Civil em Niquelândia, Gerson José de Sousa, aceitou falar com exclusividade ao Portal Excelência Notícias sobre as investigações em torno do gravíssimo acidente entre uma perua Kombi – que transportava oito pessoas –  e uma caminhonete Hilux, que terminou com duas vítimas fatais na cidade do Norte do Estado, por volta das 20h30 do dia 1º de janeiro deste ano.

Como se sabe, naquele dia, o pastor evangélico Adilson Francisco do Nascimento, de 64 anos, dirigia a Kombi quando, no cruzamento da Avenida Brasil com a Rua Antonio de Souza Bastos (nas proximidades de uma loja de materiais de construção), a perua foi violentamente atingida em sua lateral pela Hilux, que era dirigida pelo bancário João Lourenço de Gouveia, de 55 anos.

“Este caso teve grande repercussão e, realmente, merecerá grande atenção de nós, da Polícia Civil. Estamos coletando dados, através de testemunhas. E, posteriormente, vamos completar a interpretação do fato através da leitura das imagens das câmeras de segurança que existem na região, para então fazermos o trabalho pericial”, afirmou o delegado de Niquelândia.

Kombi sofreu forte impacto em sua lateral direita, no acidente com a Hilux [no detalhe, marcado por uma circunferência preta, manchas de sangue na lataria da perua: dois óbitos [Foto: Reprodução/Polícia Civil]
OS ÓBITOS – Flávia Gomes de Souza Medeiros, de 11 anos, chegou a ser socorrida, mas morreu algum tempo depois no Hospital Municipal Santa Efigênia. José Pereira do Nascimento – de 67 anos, a outra vítima – foi submetido à uma cirurgia de emergência; mas não resistiu à gravidade dos ferimentos; e morreu no dia seguinte à batida.

Na última semana, a autoridade policial ouviu formalmente o depoimento dos dois motoristas. À Polícia Civil, o condutor da Kombi disse que, naquele dia, realizava trabalho de evangelização da igreja sob sua responsabilidade; e que sempre buscava e levava as pessoas de volta às suas casas, após os cultos.

O Excelência Notícias, também com exclusividade, teve acesso ao teor das versões dos dois condutores à Polícia Civil, que serão ainda objeto de análise do delegado no desenrolar da investigação.

O QUE DISSE O PASTOR – Adilson Francisco declarou, na Polícia Civil, que trafegava pela Rua Manoel Rodrigues Tomás e que, ao chegar no cruzamento com a Avenida Brasil, olhou para sua direita e para a sua esquerda, ocasião em que “não avistou nenhum veículo” em sua tentativa de acessar a Rua Antonio de Souza Bastos (que é continuação da Manoel Rodrigues Tomás).

Toyota Hilux de João Gouvea subiu no canteiro central da Avenida Brasil após o acidente no dia 1º de janeiro [Foto: Reprodução/Polícia Civil]
Atingido pela Hilux, o líder evangélico disse que sentiu um “grande impacto” e que desmaiou em seguida, não se lembrando de mais nada sobre a tragédia. No acidente, Adilson quebrou o braço e sofreu diversas escoriações. Ele prestou o depoimento na manhã da última quarta-feira, dia 22.

O QUE DISSE O BANCÁRIO – João Lourenço de Gouveia prestou depoimento na tarde da sexta-feira (24), na Polícia Civil de Niquelândia. Ao delegado Gerson de Sousa, o bancário disse que, no dia 1º de janeiro, havia passado o dia em sua chácara na Região do Papudo, na zona rural da cidade, local onde vai quatro vezes por semana.

Na volta para a área urbana de Niquelândia, quando trafegava pela Avenida Brasil (perto de uma loja de material de construção), disse ter sido surpreendido – “de forma brusca e inesperada”, segundo o bancário – pela Kombi dirigida pelo pastor evangélico, adentrando à Avenida Brasil em direção à Rua Antonio de Souza Bastos.

Hilux envolvida no acidente no dia 1º de janeiro em Niquelândia teve os airbags acionados: as duas vítimas fatais estavam na Kombi [Foto: Divulgação/Polícia Civil]
Na sequência do depoimento ao delegado, João Gouveia disse que, ao perceber que a Kombi havia invadido a Avenida Brasil, tentou desviar a Hilux um pouco à direita, esperando que a perua lotada de evangélicos também parasse, o que acabou não ocorrendo.

Ainda de acordo com o bancário, em nova tentativa de evitar o acidente, ele teria desviado a trajetória de sua caminhonete à esquerda da Avenida Brasil, chegando a subir no canteiro central, mas que “todos os esforços foram em vão, não tendo sido capaz de evitar a tragédia”.

Kombi, que era dirigida pelo pastor Adilson Francisco do Nascimento, vista por outro ângulo no dia do acidente: veículo carregava evangélicos para um culto [Foto: Divulgação/Polícia Civil]
João Gouveia também afirmou que “a Avenida Brasil estava tranquila, porém escura; e que o veículo (a Kombi) apareceu inesperadamente”. Com o impacto de sua Hilux na lateral da perua, o bancário disse ter entrado em desespero, que sentiu fortes dores no peito e na cabeça; e que desceu imediatamente da caminhonete para prestar socorro, permanecendo no local até a chegada da Polícia Militar (PM), que o encaminhou para atendimento médico no Hospital Santa Marta.

CÂMERAS DE SEGURANÇA SERÃO DECISIVAS – “Esses tipos de acidente, geralmente, ocorrem por imperícia, imprudência ou negligência. São aspectos do fato, que iremos analisar, como excesso de velocidade; como, por exemplo, adentrar de forma inadvertida em via preferencial; dentre outros pontos. São comportamentos que podem ter sido desenvolvidos pelos dois lados (por Adilson e por João Gouveia) ou não. Quando nós tivermos todos os elementos de mídia (as imagens de câmeras de segurança) gravadas na área – já temos algumas, mas estamos atrás das demais – isso facilitará sobremaneira o trabalho da perícia-técnica para chegarmos à conclusão do que realmente ocorreu”, afirmou o delegado de Niquelândia, na entrevista.

Também no depoimento, João Gouveia disse à Polícia Civil que se sente igualmente “vítima” do fatídico acidente; que não dirigia em alta velocidade; e que não ingeriu nenhum tipo de bebida alcoólica que pudesse lhe deixar em situação de inabilidade psíquica para dirigir naquele dia.

João Lourenço de Gouveia dirigia a Hilux que se envolveu no acidente em Niquelândia [Foto: Reprodução/Facebook]
AS CONTROVÉRSIAS DO CASO – Uma das dúvidas que o delegado Gerson José de Sousa terá de dirimir, durante a investigação do acidente, é justamente se Joao Lourenço de Gouveia fez uso ou não de bebida alcoólica no dia do acidente.

Embora a Polícia Militar (PM) tenha feito constar, na ocorrência, que o bancário não apresentava odor elítico ao ser socorrido, populares e familiares das duas vítimas fatais seguem afirmando que João Lourenço estaria bêbado quando desceu da caminhonete. Outro ponto versa sobre o fato de que Adilson Francisco não teria CNH de categoria adequada para dirigir Kombi carregando várias pessoas.

DELEGADO PROMETE RESPOSTA À SOCIEDADE – “Todos esses fatores serão levados em conta, na nossa investigação. Nesses episódios, ocorrem comentários de toda ordem. E nós (a Polícia Civil) não podemos desprezar nenhum deles porque neste acidente, além dos dois óbitos, várias pessoas (que estavam na Kombi) ficaram traumatizadas; e os vizinhos (do local da tragédia) também ficam assustados. Essa comprovação de embriaguez ou não (de João Gouveia) se dá de várias formas, mas eu não tenho ainda conhecimento sobre a forma com que a PM efetivou esse procedimento lá (para afirmar que o bancário não estava sob o efeito de álcool). Se for por eles (a PM), eles (os militares) têm sim elementos para fazer essa comprovação, se (João Gouveia) estava ou não embriagado. A lei prevê que o policial militar possui um protocolo que ele executa, para concluir se o cidadão estava ou não em pleno domínio de suas faculdades mentais. Por outro lado, a questão do transporte que estava sendo realizado pelo motorista da Kombi (Adilson Francisco) no dia do acidente é outra questão que precisará ser explorada, no inquérito, para sabermos se esse veículo estava ou não com um carga normal – ou não – de passageiros, naquele dia; e se a pessoa (Adilson) possuía habilitação para dirigir esse tipo de veículo. Tudo será analisado; e esse é um trabalho que pretendo concluir o mais breve possível, porque a comunidade de Niquelândia exige uma resposta imediata sobre esse acidente”, afirmou o delegado Gerson de Sousa.

Adilson Francisco do Nascimento era o condutor da Kombi, que transportava oito integrantes de uma igreja evangélica de Niquelândia [Foto: Reprodução/Facebook]
De acordo com a autoridade policial, uma vez apuradas todas as circunstâncias do acidente, tanto Adilson Francisco do Nascimento como João Lourenço de Gouveia poderão ser indiciados por duplo homicídio culposo (quando não há intenção de matar) se comprovado que ambos os motoristas tiveram alguma parcela de responsabilidade no triste ocorrido, que marcou o início de 2020 na cidade do Norte do Estado.

“Acredito sim que pelo menos um deles (dos motoristas) deverá ser indiciado por essas duas mortes. Fugindo dessas três hipóteses – negligência, imperícia e imprudência – é difícil ocorrer um acidente desse porte, sem a presença de uma dessas assertivas”, completou o delegado de Niquelândia, na entrevista exclusiva ao Portal Excelência Notícias, no final da tarde da sexta-feira (24).

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