Rumo Logística, ‘dona’ da concessão da Ferrovia Norte-Sul, estuda três cidades do Norte para erguer entreposto de cargas
Audiência pública com Pedro Palma, diretor-comercial da empresa, ocorreu em Mara Rosa por iniciativa do Programa Líder Norte/Sebrae e da Associação dos Municípios do Norte (Amunorte): estrutura bilionária e complexa
“Você não consegue atender o cliente sem parceria com o transporte rodoviário. A ferrovia é um sistema. E não um produto que você empacota, joga no mercado, para que alguém acorde e compre. Ele precisa ser gerido e entendido como um grande sistema coordenado”.
Tal declaração – feita por Pedro Palma, diretor-comercial da Rumo Logística – deu o tom do debate realizado recentemente em Mara Rosa sobre as possibilidades as cidades do Norte escoarem suas riquezas pela Ferrovia Norte-Sul até o município de Estrela D’ Oeste (SP).
O evento – uma espécie de audiência pública – foi parte integrante do Fórum de Monitoramento dos Compromissos Regionais do Programa Líder Norte, sob organização da Gerência da Regional Norte do Sebrae Goiás (em Porangatu, atualmente sob comando de Rubya Karla Araújo); da Associação dos Municípios do Norte (Amunorte), do Sindicato Rural de Mara Rosa; Associação Comercial e Industrial e Mara Rosa (Acimar) e também pelo Poder Executivo local. HISTÓRICO – Em 28 de março deste ano, a Rumo venceu o leilão de concessão do Governo Federal de 1.537 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul com lance de R$ 2,719 bilhões.O valor do lance ficou acima do dobro do mínimo estipulado – que era de R$ 1,35 bilhão – correspondendo a um ágio de 100,9%.
Por isso, a Rumo superou a sua única concorrente – a VLI. Empresa de logística cuja principal sócia é a Vale, a VLI fez oferta de R$ 2,065 bilhões.
Com a vitória, a Rumo assumiu o compromisso de investir R$ 2,8 bilhões no prazo de 30 anos, nos dois trechos da Ferrovia Norte-Sul que agora estão sob sua responsabilidade.
Entre Porto Nacional (TO) e Anápolis, as obras foram concluídas em 2014. Porém, o trecho que passa pelo Norte Goiano nunca entrou em operação.
Já o trecho entre Ouro Verde de Goiás e a cidade do interior paulista (distante 570 quilômetros de São Paulo, na região de São José do Rio Preto/SP) está em fase final de obras.
Por esse conjunto de situações, o executivo da Rumo Logística aceitou o convite para ouvir importantes questionamentos dos prefeitos do Norte do Estado.À sua maneira, Pedro Palma forneceu informações sobre a futura operacionalização da companhia na região, dizendo que já estuda as demandas locais para o sistema de transporte integrado.
ENTREPOSTO DE CARGAS – Dentre os investimentos da Rumo no trecho da Ferrovia Norte-Sul sob sua concessão, os mais importantes versam sobre a construção de entrepostos de cargas, num raio de 300 quilômetros de distância entre um e outro ponto.Questionado no evento, Pedro Palma afirmou que um desses entrepostos da Rumo será erguido no Norte do Estado. Porém, o executivo disse que ainda não existe local definido para a obra, que pode ser edificada em Mara Rosa, Uruaçu ou Porangatu.
DEMANDA É CERTA – “Esse processo está bem avançado, mas ainda não decidimos sobre isso; e também com qual produto isso se iniciará. São as duas grandes perguntas que precisamos resolver, cujos estudos nos indicarão uma diretriz. Porém, estou absolutamente convencido de que essa região tem demanda suficiente; potencial de crescimento; e viabilidade para a colocação desse terminal de transbordo para nossa operação ferroviária. Temos também a convicção de que a ferrovia será condutora do desenvolvimento da região”, apontou o diretor-comercial da Rumo.NEGOCIAÇÕES EM ANDAMENTO – Em Mara Rosa, Pedro Palma também confirmou que a Rumo já tem negociações em andamento para algumas cargas-âncoras, principalmente de minério, uma das grandes riquezas de vários municípios da região. Segundo ele, parte dessas operações irá permitir a pulverização de cargas menores a preços competitivos.
“Pelo tamanho da ferrovia, na ocasião em que teremos algumas cargas-âncoras, isso facilitará a atração de cargas fracionadas a um custo acessível. Quem é da área comercial sabe que esse é um trabalho que não tem fim. Mesmo nas operações já consolidadas que nós temos, todos os dias discutimos com algum novo cliente a implantação de algum novo terminal de transbordo. Isso faz parte da nossa missão diária”, disse ele.E AS MINERADORAS? Pedro Palma não quis citar nomes de empresas, mas confirmou ter iniciado diálogos com mineradoras da região, por exemplo.
O executivo sinalizou que poderá voltar ao Norte do Estado ainda neste ano, para consolidar essas negociações. Porém, afirmou que não há nada de concreto sobre alguma mineradora possuir um ramal próprio de interligação com a Ferrovia Norte-Sul.
PRAZOS – Sobre o cronograma das obras – para operação da Ferrovia Norte-Sul e sua interligação com ramais de outros Estados – Pedro Palma limitou-se a dizer que elas ocorrerão “o mais brevemente possível”, sem precisar datas.
Após ser ‘provocado’ por integrantes do Programa Líder Norte/Sebrae, o diretor-comercial da Rumo comprometeu-se publicamente a realizar uma missão especial com autoridades e lideranças da região em cidades como Rondonópolis (MT), Santos (SP) e Sumaré (SP) para detalhamento de toda a operação logística da empresa.
O objetivo, segundo ele, será facilitar o entendimento do Norte Goiano sobre as potencialidades de atuação da Rumo na região; e bem como a relação comercial dos atores locais (empresas/prefeituras e demais segmentos) com a companhia.
BICO CALADO – O conteúdo explanado nesta reportagem foi captado/gravado pelo Portal Excelência Notícias por ocasião da audiência pública, enquanto Pedro Palma respondia publicamente as perguntas previamente elaboradas pelos organizadores do evento. Porém, o executivo da Rumo Logística deixou o Sindicato Rural de Mara Rosa sem conversar com a imprensa da região.
Autoridades acreditam que ferrovia estimulará desenvolvimento do Norte Goiano
Jaldene Nunes
“CCom certeza, o Norte do Estado vai ser beneficiado com esse terminal de transbordo de cargas. Acho que essa foi uma das principais falas do Pedro Palma, de interesse do Norte. Vejo que a Ferrovia Norte-Sul veio para atender aos nossos anseios do Norte do Estado por desenvolvimento, principalmente para atender as demandas da produção agrícola local. Eu costumo dizer que essa ferrovia é um espeto sem carne. Agora, com a concessão dada à empresa por meio do leilão, caberá à Rumo colocar carne nesse espeto. E essa ‘carne’ é a promessa de desenvolvimento para a nossa região”, afirmou o prefeito de Mara Rosa e atual presidente da Amunorte, Flávio Batista de Souza, o popular Flávio Tatu.
VANUSA CÉTICA – Uma das coordenadoras do programa Líder Norte do Sebrae Goiás, ex-deputada estadual e ex-primeira dama de Porangatu, Vanuza Valadares (MDB) também acompanhou o evento em Mara Rosa.
Ao Portal Excelência Notícias, a atual diretora-presidente das Centrais de Abastecimento de Goiás S/A (Ceasa-GO) avaliou como “positiva” a audiência pública com o diretor-executivo da Rumo Logísitica.
Porém, Vanusa fez a ressalva de que Pedro Palma não apresentou planos concretos à Região Norte, citando que essa é a hora de os líderes do Norte se anteciparem para definir metas de alinhamento com a empresa agora detentora da concessão da Norte-Sul.
“Percebemos que nada foi planejado (pela empresa). E sabemos que o Norte – por tudo o que está acontecendo agora – com a ferrovia e com a provável duplicação da BR-153 – temos de correr contra o tempo com as questões que envolvem planejamento, para atrair indústrias, atrair investimentos, e aproveitar todo o potencial que temos aqui. Eu acredito muito agora que realmente o Norte é a bola da vez”, afirmou Vanusa.
O senador Luiz Carlos do Carmo (MDB) falou de sua expectativa sobre a operação da Norte-Sul se tornar realidade. Como se sabe, Luiz do Carmo assumiu em definitivo a vaga de Ronaldo Caiado (DEM) em fevereiro, sucedendo no Senado o atual governador do Estado.
Para ele, o fato de a Rumo Logística ter pago mais de R$ 1 bilhão em ágio pela ferrovia no leilão da concessão do governo federal traz esperanças de que a empresa realmente se preocupará com o desenvolvimento da região.
NIQUELÂNDIA TERÁ GANHOS – “A agricultura da região vai ganhar muita força, porque a logística é muito importante para o escoamento da produção. O Norte vai virar fronteira agrícola, igual a Rio Verde. Essa ferrovia beneficiará cidades até 150 quilômetros de distância da sua linha, como é o caso de Niquelândia, que fica a 90 quilômetros do trecho da Norte-Sul que passa em Uruaçu. A cidade de Niquelândia fica numa região rica, de um povo trabalhador, que precisa de novas oportunidades de desenvolvimento”, comentou o senador.
TUCANO ANIMADO – O prefeito de Porangatu, Pedro Fernandes (PSDB), disse também que suas perspectivas são boas, após a reunião com o executivo da Rumo Logística.
Segundo ele, Pedro Palma ofertou informações precisas e preciosas sobre a operacionalização da Ferrovia Norte-Sul como ferramenta que trará desenvolvimento, e a geração de emprego e renda para o Norte.
O chefe do Executivo porangatuense disse que sua administração desenvolve projeto regional com a empresa Olfar S/A Alimento e Energia, de Erechim (RS), que irá operar o refino de até 700 mil litros de biodiesel por dia em Porangatu.
“Esse projeto vai viabilizar a atração do porto seco para a Região Norte. Tenho certeza de que esse pátio de transbordo – junto com a duplicação da BR-153 – nos dará um grande salto de desenvolvimento para a nossa região”, afirmou o prefeito de Porangatu.
CÚPULA DO SEBRAE GOIÁS ESTEVE PRESENTE PRESENÇA – Oriundo do Rio Grande do Sul, Derly Cunha Fialho – novo diretor-superintendente do Sebrae em Goiás – conversou com o Excelência Notícias em Mara Rosa por ocasião da audiência-pública sobre a Ferrovia Norte-Sul.Na oportunidade, ele elogiou o andamento do Programa Líder Norte, a exemplo de ações semelhantes que foram desenvolvidas pelo Sebrae-RS no seu Estado de origem.
“Temos plena confiança de que o Sebrae vai dar contribuição muito importante para os territórios brasileiros, especialmente aqui para a região Norte de Goiás”, apontou o CEO do Sebrae goiano.Para o diretor-técnico do Sebrae, Wanderson Portugal, os dois anos recém-completados da implantação do Líder Norte na região prospecta o desenvolvimento com a união das pessoas que moram e possuem atividades comerciais nas cidades cortadas pela BR-153.
“Estamos no comecinho, mas ainda há muita coisa pela frente, a ser feita. Esse encontro com a direção da Rumo Logística foi importantíssimo para o Sebrae alertar a atenção dos empresários, para que aproveitem a ferrovia que está aqui. Se você (o empresário) ficar esperando – sem aproveitar esse momento e sem se antever ao que poderá acontecer – as empresas de fora vão chegar, se instalar e ocupar o espaço. Há grandes oportunidades e grandes desafios com a chegada da Ferrovia Norte-Sul. Mas os empresários da Região Norte têm de entender isso”, avaliou Portugal.
CONTÊINER É ALTERNATIVA VIÁVEL – Coordenador do Sindicato Rural de Niquelândia e também um dos articuladores Programa Líder/Sebrae, Paulo Helder Martins entende que, uma vez que a Rumo Logística trouxe as informações que a região precisava, agora é o momento de se apropriar delas.Paulo Helder aproveitou a ocasião para, no final da reunião, também fornecer informações sobre a Região Norte à Pedro Paiva: entregou em mãos, ao executivo da Rumo, um dossiê de 57 páginas sobre as potencialidades e particularidades de todos os municípios do Norte.
“Ele (Pedro Palma) nos alertou sobre a necessidade de trabalharmos com contêineres (da Brado, um dos braços empresariais da Rumo Logística) Nós (a Região Norte) não temos volume de exportação de um tanque inteiro, mas temos condições de despachar nossa produção em um contêiner. É importante termos essa informação. Também julgo importante não se ter definido ainda onde será colocado o entreposto, porque nós podemos influenciar para que esse terminal de transbordo seja instalado em uma área comum, que não esteja nem tanto ao Norte de Goiás (sentido de Porangatu, mais próximo da divisa com o Tocantins) nem tanto para o ‘Sul aqui da Região Norte’ (Uruaçu e arredores). Eu creio que o melhor local seja aqui mesmo em Mara Rosa, pelo fato dessa cidade estar num ponto geograficamente que melhor nos atende, no contexto da região”, afirmou o coordenador do Sindicato Rural de Niquelândia.