Fraude em leilão de gado: Celino Correa diz que vai à Corregedoria da PM. Em Uruaçu, comandante da corporação rebate críticas de ex-vice-prefeito
Divulgação de ocorrência registrada pela PM, enviada à imprensa e em grupos de WhatsApp, cita político do SD como um dos supostos envolvidos em golpes contra leilões virtuais de gado Nelore, feitos em Catalão pelo Canal Terra Viva: Celino nega envolvimento e ataca comando da PM, que descarta 'politização' do caso
O corretor de imóveis e ex-vice-prefeito de Niquelândia, Celino Correa (SD), visitou a redação do Portal Excelência Notícias em Niquelândia na manhã dessa sexta-feira (12) para rebater, de forma veemente, que seja parte supostamente integrante de um esquema de falsificação de documentos para fraudar leiloes virtuais de gado, conforme consta no histórico de uma ocorrência divulgada no meio da semana à imprensa da região pela Polícia Militar (PM).
Na avaliação do ex-vice-prefeito, seu nome foi indevidamente exposto ao achincalhe público pela corporação no início da tarde da quinta-feira (11) depois do desdobramento de uma operação de inteligência realizada pela PM de Catalão, cidade do Sudeste Goiano, em Niquelândia.
Já o comandante do 14º BPM em Uruaçu, tenente-coronel Maxwell Franco de Morais, posicionou-se de forma completamente oposta ao político (veja entrevista do oficial da PM no final desta reportagem) e saiu em defesa de seus subordinados em Niquelândia.
O militar foi igualmente ouvido pelo Excelência Notícias na tarde desta sexta-feira (12), poucas horas após as declarações públicas dadas por Celino Correa.
COMO TUDO COMEÇOU – Detido pela equipe do Comando de Operação de Divisas (COD), uma tropa especializada da PM, um indivíduo identificado como sendo Alberto Dias dos Santos – conhecido pela alcunha de Betão – confirmou ter sido o responsável pelo transporte do gado do leilão supostamente fraudado em Catalão no trajeto de 30 quilômetros entre um posto de combustíveis na rodovia GO-237 até uma propriedade rural na região do Povoado Indaianópolis.
De Alberto, a PM/COD obteve a informação de que um segundo indivíduo – identificado como sendo Cláudio Antonio Nascimento Barbosa – também teria participado do delito.
Na sequência das diligências, os militares conseguiram prender Claudio e foram até sua residência, para uma minuciosa revista no local.
No imóvel, de imediato, a PM/COD localizou seis cartuchos de espingarda calibre 20, todos devidamente carregados com a munição correspondente.
Em seguida, a PM/COD encontrou diversos documentos de origem duvidosa que apresentavam sinais de falsificação, que eram supostamente utilizadas para o arremate de gado Nelore Puro de Origem (P.O.) no Canal Terra Viva, que faz esse tipo de leilão pela televisão.
Sempre de acordo com a ocorrência, Cláudio disse que comprava carteiras de identidade falsas de pessoas com nome limpo.
Depois, falsificavam também documentos de propriedades rurais e conseguiam financiamento à compra dos animais que eram retirados e entregues à quadrilha, mediante o pagamento da primeira parcela do valor do lance dado no arremate.
Porém, os verdadeiros donos dos documentos e das propriedades acabavam com o nome `sujo`, pois as demais parcelas assumidas no leilão do Canal Terra Viva não eram pagas pela quadrilha.
Na sequência das revelações, Cláudio relacionou outros dois supostos ‘cabeças’ da associação criminosa: o proprietário de uma empresa de transportes, que o homem preso apontou como sendo João Batista Barbosa, conhecido como JB; e o ex-vice-prefeito de Niquelândia.
Na propriedade do Indaianópolis – citada por Alberto, distante 20 quilômetros da área central do povoado – os militares da PM/COD encontraram as 24 cabeças compradas mediante provável fraude no leilão virtual, ainda na noite da quarta-feira (10).
No dia seguinte, segundo o histórico da ocorrência, os militares providenciaram a retirada das cabeças de gado da propriedade e o caso foi levado ao conhecimento da Delegacia da Polícia Civil em Niquelândia pela PM/COD da região e pelos militares que se deslocaram de Catalão até o Norte do Estado.
O QUE DISSE CELINO CORREA – Visivelmente nervoso com a divulgação de seu nome na ocorrência da PM/COD, o ex-vice-prefeito de Niquelândia na gestão do então prefeito Valdeto Rodrigues (PSB) rechaçou qualquer envolvimento da sua pessoa com os crimes de associação criminosa; de estelionato; de falsificação de documentos; e de posse irregular de munições de uso permitido, conforme relatado por Cláudio Barbosa.“Eu conheci essa pessoa (Cláudio) através do JB – que é o tio dele – mas não o vejo há cerca de dois anos. Não tenho o telefone dele (Cláudio); nem relações comerciais ou de amizade; nem mesmo negócios em Catalão com as pessoas citadas nessa ocorrência”, afirmou o ex-vice-prefeito, que atualmente reside em Anápolis.
Por tratar-se de figura pública que, inclusive, disputou a eleição suplementar para prefeito da cidade em junho de 2018, Celino Correa disse ao Excelência Notícias que pode ter ocorrido “certa maldade” dos militares lotados na PM da cidade em dar amplitude à divulgação do caso.
O ex-vice-prefeito afirmou que sempre trabalhou com muita honestidade e que nunca teria se envolvido em nenhum episódio de natureza ilícita no decorrer de sua vida pública, como político; e na esfera privada, como corretor de imóveis.
Questionado, Celino Correa admitiu que já possuiu cabeças de gado numa fazenda alugada na região do Povoado Faz Tudo; que somente participou de leilões presenciais de gado em Niquelândia; e que desfez-se dos bovinos há cerca de dois anos, após ser eleito ao cargo público que ocupou até meados desse ano.
Celino também afirmou não conhecer o sistema de leilões virtuais de gado, mantido pelo Terra Viva e outros canais rurais do gênero existentes no sistema de antenas parabólicas e operadoras de TV por assinatura.
ADVOGADOS VÃO QUESTIONAR – “Essa divulgação da ocorrência, pela PM, foi feita de forma covarde, leviana e ilegal pois o trabalho investigatório é de competência da Polícia Civil. Fiquei surpreso e triste com essa notícia; e também pela forma com a mesma foi enfocada pelos demais meios de comunicação de Niquelândia. E também fiquei particularmente triste com a falta de qualificação do representante da PM de Niquelândia (no caso, o capitão David Cabral, cujo nome não foi citado pelo ex-vice-prefeito) porque esse episodio feriu a integridade moral da minha pessoa. Vou entrar com representação na Justiça contra os responsáveis da PM por essa publicação – que eu considero uma ‘politicagem’ por ter sido feita sem elementos probatórios – através dos nossos advogados junto à Corregedoria da PM em Goiânia por esse ‘ato político’ da corporação; e também registrar uma ocorrência por difamação na Polícia Civil”, comentou Celino, na entrevista que concedeu ao Excelência Notícias.
Responsável pelo comando dos 15 municípios abrangidos pelo 14º BPM em Uruaçu, o tenente-coronel Maxwell disse que, ao passo que recebeu ‘assombrado’ a queixa do ex-vice-prefeito de Niquelândia sobre a divulgação do histórico da ocorrência em que Celino foi citado por um dos homens envolvidos e presos na operação do COD com a PM de Catalão no Indaianópolis sobre fraudes em leilões virtuais de gado, sua conduta será tratar a reclamação do político com a maior naturalidade possível.
Segundo o oficial, a PM está bastante acostumada com situações em que vítimas de delitos “rogam a Deus e chamam a polícia”; e que, uma vez resolvido determinado problema, as pessoas “esquecem a Deus e amaldiçoam a polícia”.
De acordo com Maxwell – que afirmou ter ouvido áudios com as declarações polêmicas de Celino Correa – ao passo que o político elogiou a atuação da PM em outros casos, o ex-vice prefeito deixou transparecer que a eficiência e a combatividade dos militares já não lhe serviriam em função do suposto ‘equívoco’ envolvendo seu nome.
Maxwell disse que já teve relacionamento institucional com Celino no período em que ele ocupou a prefeitura junto com o ex-prefeito Valdeto, época em que o então vice-prefeito teria demonstrado que trabalhava com correção no exercício do cargo público.
POLITIZAÇÃO, NÃO – “Eu entendo que a revolta dele (Celino) deveria ser dirigida ao cidadão (Cláudio Barbosa) que o acusou, ao ser preso. Nem nós, da Polícia Militar; e nem da Polícia Civil o acusamos de nada. Se a PM invadiu, ou não, a competência dos policiais civis, acho que não cabe a ele (Celino) esse tipo de indagação. Fomos acionados (pela Inteligência da PM de Catalão) para o levantamento de um possível ato criminoso; e a resposta foi dada à sociedade (a prisão de Alberto e de Cláudio). Felizmente, ainda vivemos numa democracia e é direito dele (Celino) reclamar, mas não se pode generalizar o nome da instituição em função do entendimento de que houve um erro de um outro policial, ou mesmo da minha pessoa enquanto comandante. Agora, se ele (Celino) ou outras pessoas estão querendo politizar esse assunto – que teria sido uma represália ou atuação política da PM contra ele – desconheço que tenha ocorrido isso. Se ele (Celino) quiser ir à Corregedoria, pode ficar absolutamente à vontade porque nós (da PM) não temos nada a esconder. Porém, se ficar demonstrado que agimos com transparência, também iremos tomar nossas medidas legais e cobrar dele (Celino) explicações formais sobre isso”, afirmou o comandante da PM em Uruaçu, ao Excelência Notícias [Euclides Oliveira]
Maxwell Franco de Morais é o comandante do 14º BPM em Uruaçu, que responde também pelas atribuições da PM em Niquelândia: críticas do ex-vice prefeito Celino Correa também poderão ser rebatidas pelos policiais militares na forma da lei [Foto: Divulgação/PM]