Mobilização popular busca reverter possível fechamento do campus da UEG em Niquelândia
"Relatório da Comissão de Redesenho" da universidade prevê a extinção de 15 campus em todo o Estado: falta de sede própria, poucos servidores efetivos e número reduzido de cursos colocam campus local em desvantagem; UEG de Minaçu também está ameaçada de sair do mapa no governo de Ronaldo Caiado/DEM
Enfrentando seguidos abalos de ordem econômica desde o início de 2016 – quando a Votorantim Metais paralisou a produção e extração de minério de níquel, culminando com a demissão de 800 trabalhadores – Niquelândia agora luta para não perder outra conquista oriunda dos tempos de bonança.
A notícia de que o campus local da Universidade Estadual de Goiás (UEG) – atualmente sob o comando da diretora Priscila Maia Barbosa – poderá ser fechado 19 anos após sua criação pelo Governo de Goiás – num plano de reestruturação da instituição – deixou a cidade em alerta máximo, no decorrer dessa semana.
Tanto isso é verdade que a universitária Daianny Borba, acadêmica do 5° período do curso de Administração, utilizou a tribuna da Câmara Municipal de Niquelândia na noite da última quarta-feira (8), para discorrer aos vereadores sobre o delicado assunto.
A preocupação dos universitários e dos docentes da UEG niquelandense versa sobre o conteúdo do “Relatório Nº 01 da Comissão de Redesenho”. Expedido no último dia 2 de maio – com previsão de ser votado nesta segunda-feira/13, pelo Conselho Superior Universitário (CSU) da instituição – o documento estipula seis critérios para a manutenção ou não do funcionamento dos campi da UEG em todo o Estado.Por esse documento, a UEG poderá extinguir um total de 15 unidades da instituição. No Norte do Estado, além de Niquelândia, o campus de Minaçu também corre o risco de ser fechado.
Se confirmado o redesenho, apenas Uruaçu e Porangatu terão mantidas suas sedes da UEG. No Vale do São Patrício, a UEG de Goianésia também está em vias de ser extinta.Na tarde da quinta-feira/9 – horas antes do momento em que os universitários se vestiram de preto e ocuparam o plenário do Legislativo em situação de luto pela ‘morte’ da UEG na cidade – o professor-coordenador do Curso de Mineração em Niquelândia, Fainy Rodrigues Oliveira, esteve na redação do Portal Excelência Notícias para uma entrevista exclusiva acerca do assunto.
De acordo com o educador, o campus hoje atende 536 universitários (sendo 416 alunos na modalidade presencial e outros 120 na modalidade Ensino à Distância/EaD).
Fainy explicou que, dentre os seis critérios do pretendido redesenho da quantidade de sedes da UEG no interior, o campus de Niquelândia está prejudicado em três deles.O primeiro é a falta de uma sede própria, já que o prédio atual – onde funcionava um antigo hospital – é alugado ao Estado por R$ 10 mil mensais.
O segundo ponto desfavorável é o número de professores efetivos: a UEG Niquelândia possui apenas 23% de educadores concursados (apenas três, no total).
E a “nota de corte”, por assim dizer, estipula a necessidade de que 25% dos professores, no mínimo, sejam do quadro de efetivos. Do total de 13 professores da UEG local, 10 deles ministram aulas sob contrato com o Estado.
Fora isso, segundo Fainy, a UEG também precisa cumprir decisão judicial anterior que determina a exoneração dos contratados em todo o Estado.
Ou seja, com apenas três professores efetivos, a sequência das atividades educacionais do campus de Niquelândia também seria inviabilizada.
Com relação ao quantitativo de cursos, a UEG local também está em situação desfavorável, de acordo com o educador: o redesenho prevê a manutenção de unidades em que haja o funcionamento de, no mínimo, três cursos regulares.
Em Niquelândia, o “Curso de Tecnólogo em Turismo”, que previa três anos de ensinamentos na área, foi descontinuado em 2017. Com relação ao “Curso de Tecnologia em Mineração”, o último vestibular foi realizado em 2018.
A situação se complica mais um pouco quando o foco é o Curso Superior em Administração: o mesmo, segundo Fainy, foi oferecido na forma “Modular” aos universitários por um período de apenas dois anos (um vestibular a cada 12 meses, para atender a demanda ora existente).
Como nunca houve garantia de que o mesmo se tornasse um curso regular, de oferta contínua, os alunos que ingressaram em Administração na UEG em Niquelândia no ano de 2017 devem terminar o curso apenas no segundo semestre de 2020.
Porém, como o redesenho definitivo da UEG no Estado ainda não foi oficializado, ainda não se sabe se a universidade poderá garantir a conclusão do curso em Niquelândia mesmo; ou em alguma cidade próxima, como Uruaçu, por exemplo.
PROVIDÊNCIAS INICIAIS – Ainda de acordo com Fainy, quando ele; a própria Daianny; e os alunos que foram ao plenário do Poder Legislativo; receberam a garantia de que todos os vereadores da cidade assinarão uma Moção de Apelo para que Caiado mantenha a UEG funcionando em Niquelândia.
Vários deles, inclusive, se comprometeram com declarações públicas no microfone da casa de leis a acionar seus respectivos deputados federais e estaduais, para os quais ofertaram apoio no objetivo de angariar votos dos niquelandenses, no ano passado.
Prevê-se ainda, conforme informou o coordenador do curso de Mineração, uma visita formal de autoridades, professores e alunos da UEG local à sede da Pró-Reitoria da UEG em Anápolis, para uma reunião com o reitor interino da instituição, Ivano Devilla.
FECHAMENTO SERIA UMA NOVA TRAGÉDIA – “Esse relatório (do redesenho) não nos pegou exatamente surpresa, mas seu conteúdo (os critérios mencionados) nos deixou bastante apreensivos. Por conta disso, estamos tomando várias ações de forma imediata para repensarmos o funcionamento da UEG aqui em Niquelândia, juntamente com o Poder Público, tanto do Executivo quanto do Legislativo; demais autoridades; empresários locais; os mais diversos segmentos da sociedade civil organizada; e vocês, da imprensa. O Relatório de Redesenho é um trabalho técnico que foi elaborado por uma comissão vinculada à Administração Geral da UEG, formada por reitores e pró-reitores. Dentre os critérios estabelecidos, o fato de não termos uma sede própria da UEG em Niquelândia torna-se um problema muito grande para a gente; do mesmo modo o fato de 77% dos nossos professores terem sido contratados de forma temporária; e da situação dos nossos cursos. Em Turismo, ainda temos alguns alunos remanescentes (da extinção do curso, em 2017). Quanto ao curso de Administração, após os alunos concluírem os estudos em 4 anos e meio, ele também deixará de existir por ser modular. Por lei, os alunos têm direito à continuidade de seus estudos. Porém, embora o relatório desmembre as ações de redesenho que estão sendo propostas, as medidas corretivas (ao eventual fechamento da UEG em Niquelândia) ainda não nos foram informadas. Existem várias situações que ainda estão sendo discutidas no âmbito do CSU, onde as decisões-macro são deliberadas. A paralisação da Votorantim Metais – além do impacto em vários setores em Niquelândia – afetou inclusive a Unidade Integrada Sesi-Senai. E para nós, na UEG, isso não foi diferente, pois culminou com a diminuição de várias de nossas demandas; e com a desmotivação dos nossos alunos de Mineração, que tinham o anseio de trabalhar na Votorantim. Nos últimos anos, Niquelândia está sendo ‘bombardeada’ por uma série de situações negativas; e se a nossa unidade da UEG for realmente descontinuada, creio que esse fato será uma ‘tragédia’ para a Educação local, assim como foi na paralisação da VM. No governo anterior (de Marconi Perillo) tivemos representantes de Niquelândia no mais alto escalão do Estado, que deveriam ter buscado a construção do prédio próprio para fortalecer a universidade; e a vinda de novos cursos. Entendemos que são processos internos da UEG, mas que poderiam ter sido resolvidos mediante interferência política. Mas, nesse momento delicado, também é extremamente necessário que nossos alunos da UEG em Niquelândia também participem de todas as ações de mobilização, além de professores e demais integrantes da sociedade da cidade; e também de Colinas do Sul. Se o fechamento realmente ocorrer em Niquelândia, nosso prejuízo na educação superior será gigantesco”, afirmou o professor Fainy Rodrigues, na entrevista exclusiva ao Excelência Notícias.
RESPOSTA DA UEG – Consultada sobre o assunto, a assessoria de imprensa da UEG em Anápolis enviou “Nota Oficial” à redação onde, de maneira bem genérica, explica a proposta de redesenho do número dos campi da instituição em todo o Estado, com o seguinte teor:
“A Universidade Estadual de Goiás (UEG) informa que está discutindo internamente um processo de reestruturação para a oferta de cursos no Estado. A Instituição entende ser de suma importância, ou até questão de sobrevivência, a necessidade de se debater e se discutir uma nova estrutura, sobretudo frente ao contexto nacional e estadual de limitações orçamentárias e financeiras.
Tendo em vista essas questões, na tarde da última quinta-feira, 2, a comissão designada para fazer os estudos sobre o tema apresentou, em reunião administrativa, os resultados da proposta elaborada. Ressalta-se que foram estritamente aplicados os critérios propostos, sem nenhum tipo de juízo de valor.
A comissão ainda está elaborando o estudo sobre os impactos financeiros e orçamentários da proposta, que rediscute a oferta e permanência de 15 campi e 57 cursos.
Essa proposta ainda precisará passar pela análise da comunidade acadêmica por meio do Conselho Universitário, que deverá ser convocado ainda este mês.
Após essa etapa, o próximo passo é enviar o projeto ao Governo do Estado. Ressaltamos que até o momento não há decisão alguma tomada sobre o tema.
A instituição entende e respeita o direito de sua comunidade acadêmica à livre manifestação e se coloca à disposição para sanar eventuais dúvidas”.
(ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA UEG – ANÁPOLIS)