Saúde previne suicídio entre jovens com palestra em escola estadual
Eduardo Taveira, psicanalista do CAPS de Niquelândia, disse que pais, amigos e professores precisam estar alertas para certas frases ditas repetidamente por 15 dias no mínimo, que podem indicar sofrimento psíquico
A Secretaria Municipal de Saúde de Niquelândia realizou, na tarde da sexta-feira (8), a primeira de uma série de palestras com foco na prevenção e combate ao suicídio entre adolescentes, que serão ministradas para alunos matriculados nas escolas da rede estadual da cidade com apoio do Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).
Na oportunidade, o psicanalista do CAPS, Eduardo Taveira, discorreu sobre o tema para 400 alunos na quadra coberta do Colégio Estadual Joaquim Maria de Godoi (Polivalente) pelo crescente número de fatalidades do tipo (na forma tentada ou consumada) envolvendo jovens com a personalidade ainda em formação no Brasil e em Goiás, inclusive na cidade do Norte do Estado. Os professores da instituição comandada pelo diretor Marco Muniz também foram orientados para tentar diagnosticar situações de risco desse tipo.
Segundo Eduardo, com o advento das facilidades proporcionadas pela Internet – bem como pela falta de maior controle dos pais sobre o que os filhos visualizam nas redes sociais – propagaram-se novas modalidades de incitamento às mortes prematuras de jovens em idade escolar.
A mais recente delas foi o polêmico “Jogo da Baleia Azul”, em que são propostos 50 desafios com diferentes níveis de tortura física e psicológica sendo que o último deles é o suicídio, evidentemente.
Segundo Eduardo, também propagou-se o “Jogo da Asfixia” que consiste em prender completamente a respiração até a pessoa desmaiar, muitas vezes indo a óbito sem tempo hábil para ser reanimada pelo Corpo de Bombeiros.
Outro absurdo ficou conhecido como “Jogo da Fada de Fogo”, em que o forno do fogão a gás é deixado ligado durante toda a noite para que, ao amanhecer do dia seguinte, ocorra uma explosão a partir da faísca gerada num interruptor de eletricidade da casa.
Outra “modalidade” de suicídio bastante conhecida – que ressurgiu na internet com o nome de “Cutting”, segundo o psicanalista – se caracteriza pela atitude de ferir-se com objetos cortantes (como faca e tesoura) para provocar o autoflagelo por hemorragia, já que a perda de sangue em grande quantidade costuma ser fatal.
E, por fim, o “Desafio do Sal e Gelo” que consiste em apertar sal e gelo na palma das mãos, com o objetivo de provocar queimaduras. “Todos esses jogos que eu citei vitimam pessoas já psicologicamente desequilibradas, levando-as ainda mais para o fundo do poço”, afirmou ele.
Segundo Eduardo, o suicídio trata-se de um fenômeno complexo, que pode afetar pessoas de diferentes idades; classes sociais; origens, orientações sexuais; e identidades de gênero. Mas descobrir os sinais de alerta – em alguém ou até mesmo em si próprio, segundo Eduardo – pode ser um importante passo para evitar um suicídio entre os jovens.
Um dos mitos que o psicanalista fez questão de derrubar na palestra foi a máxima de que “quem quer tirar a própria vida não avisa a ninguém”, expondo números alarmantes: de cada dez jovens que tentaram se matar, sete deles não avisaram mesmo o que pretendiam fazer. E dos três que avisaram, dois deles foram ignorados.
Entretanto, de acordo com ele, as pessoas devem considerar seriamente que o individuo em situação de sofrimento psíquico apresenta visível agravamento de problemas de conduta e de manifestações verbais sobre a vontade de se matar durante duas semanas, pelo menos.
Frases como “vou desaparecer”; “vou deixar vocês em paz”; “eu queria poder dormir e nunca mais acordar”; “é inútil tentar fazer algo para mudar”; “eu só quero me matar”, segundo o psicanalista, não devem ser encaradas apenas como meras ameaças ou chantagens emocionais dos adolescentes, mas sim como um aviso para um risco real de suicídio, por parte dos familiares, amigos e professores que convivem com o jovem que já externou esse tipo de pensamento.
“Porém, esses sinais não podem ser considerados isoladamente. Não há uma receita para detectarmos, seguramente, uma crise suicida de uma pessoa próxima. Mas isso fica evidenciado ao longo do tempo. Porém, é importante também que os pais, amigos e professores tentem não opinar, não dar sermão e não banalizar o problema se estiver diante de um adolescente nessa situação. Não adianta, por exemplo, dar palavras vazias de incentivo à resolução do problema, sem o conhecimento teórico para diagnosticar um problema psíquico. Por isso, os serviços de Saúde de Niquelândia como o CAPS; o próprio Hospital Municipal; e o Samu 192 devem ser acionados em situações de emergência suicidas. A depressão, geralmente, faz com que várias pessoas tentem cometer o suicídio”, detalhou o psicanalista Eduardo Taveira.